quarta-feira, 19 de outubro de 2011

“Occupy Wall Street”: um suspiro em meio ao possível declínio


por Rafael Balseiro Zin

    Os Estados Unidos da América estão em chamas! Será um sinal de mudança? Evidentemente que sim. As últimas semanas ficaram marcadas pela aglomeração de uma gama considerável de jovens e trabalhadores que iniciaram, no dia 17 de setembro, uma recente luta em Nova York. Trata-se de um novo movimento da sociedade civil que clama por justiça econômica e suspira contra a corrupção no sistema financeiro. No entanto, o que esse fenômeno evidencia?
    Aqueles que acompanharam os estratagemas e subterfúgios dos gananciosos de Wall Street já perceberam os prejuízos causados à população americana, bem como ao resto do mundo. Os últimos trinta anos vêm mostrando que algo está errado na forma como os Estados Unidos têm exercido sua influência na economia internacional e já salientam a urgência de uma mudança latente em prol de uma nova ordem mundial. Seria este um sinal de declínio da hegemonia estadunidense? 

    Para melhor compreender essa questão, é necessário estabelecer uma relação entre o caos financeiro gerado pelas crises e pelas finanças globais e as razões para o possível descenso norte-americano, enquanto hiperpotência global. É preciso, portanto, compreender como se desencadeiam as crises. Ao pensar a idéia de caos e governabilidade no moderno sistema mundial, o economista político italiano Giovanni Arrighi, em parceria com a esposa e companheira intelectual Beverly Silver, propõe que as crises são cortes abruptos em seqüências previsíveis. Nesse sentido, o padrão das crises está na especulação de mercado que gera uma aparente riqueza e momentos de euforia. Consequentemente, se estabelece um período de cautela ou contensão. Em geral, as crises mostram a incapacidade que alguns países têm para honrar suas dívidas. O que se pode inferir é que momentos tumultuados são potencialmente geradores de crise. Mas não necessariamente são momentos ruins.

    A história moderna tem muito a ensinar sobre a ascensão e o declínio de impérios pautados pela acumulação desmedida de riquezas materiais. As conquistas dos portugueses e espanhóis no século XVI foram seguidas pela expansão comercial holandesa no século XVII e substituídas no século XVIII pelos franceses e britânicos. O império britânico atingiu seu apogeu no século XIX, perdendo sua hegemonia no período entre guerras, quando os Estados Unidos inauguraram seu século de supremacia. Contudo, a história mais recente tem mostrado que, após a invasão do Afeganistão e o desastre militar no Iraque, o poderio norte-americano no mundo está se desgastando. Embora seja inconteste a superioridade militar dos Estados Unidos, seu prestígio político e moral têm sofrido inúmeros abalos mundo afora, inclusive entre a sua própria população.

    Essa idéia de ascensão e declínio das grandes potências mundiais não é novidade. Contudo, é interessante observar como esse processo funciona. Hoje, o que está acontecendo com os Estados Unidos é um encontro consigo mesmo. De alguma maneira, desde a fundação do país, os norte-americanos acreditaram ser uma sociedade digna de imitação. Toda a política externa estadunidense se assenta no seguinte princípio: o de um melhor modelo de sociedade. Efetivamente, os Estados Unidos têm a maior economia mundial, embora sofram de um déficit crescente em sua balança comercial – o que revela a vulnerabilidade financeira da potência hegemônica, cujas finanças seguem desequilibradas e em ritmo constante.

    Para piorar, a direita americana contemporânea não acredita em fatores externos, tampouco em corrigir as falhas do mercado. Desse comportamento relutante, pululam sentimentos de repulsa ao atual modelo econômico, pautado pela ilusão do crescimento interminável e propulsor de desigualdades sem tamanho. Por esse motivo, é de se admirar os protestos que continuam acontecendo em Wall Street. Eles mostram que, unidos, os cidadãos americanos são capazes de atingir a atenção da sociedade sobre esse derradeiro que desestabiliza todo o mundo. E uma coisa é certa. Das reflexões que brotam entre intermináveis suspiros, fica claro que os sinais do desgaste já estão se evidenciando. O que se tem é uma nova ordem mundial em processo de formação. Não sabemos, no entanto, qual será. A pergunta que fica é: quando isso acontecerá?

Rafael Balseiro Zin é estudante de Sociologia e Política na Escola de Sociologia e Política de São Paulo

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