segunda-feira, 28 de junho de 2010

Imagens valem mais que palavras

O que aconteceu em Pernambuco e Alagoas não pode ser definido com simples palavras. A solidariedade é uma ação prática, acima de qualquer discurso de sensibilização. As imagens falam por si só.
Continuemos as doações e o voluntariado, o nosso povo agradeçe!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Solidariedade ao povo Pernambucano


A todas e todos, que acreditam que podem fazer a diferença. Nos dias 17 e 18 de Junho, as chuvas que atingiram Pernambuco causaram uma situação de catástrofe nunca imaginada na região, principalmente na Mata Sul do Estado.
A situação em termos estatísticos são a das espantosas cifras:
- 17.708 desabrigados:
- 21.552 desalojados:
Em 54 cidades atingidas:
As cidades que estão em situação mais critica são:
- Cortês:
- Palmares:
- Serinhaém:
- Barreiros:
- Água Preta:
- Catende:
- Ribeirão:
- Primavera:
- Amaraji:
- Gameleira:
- Escada:
- Jaqueira:
- Maraial e:
- Vitoria de Santo Antão.
Ajudaremos a diminuir a situação de caos nessa região com a nossa solidariedade ativa, com doações prioritárias de água e alimentos não perecíveis nos posto de arrecadação localizada no:

- Quadra em frente ao Quartel do Comando Geral, no Derby.
- Quartéis do Exército Brasileiro.
- Sedes das Coordenadorias de Defesa Civil em todo o estado.
- Quartel do Corpo de Bombeiros, na Avenida João de Barros.
- Sede do Movimento dos Trabalhadores Cristãos (MTC), na Rua Gervásio Pires.
- Nos ônibus do Grande Recife Consórcio de Transportes
- Postos da Polícia Militar ou dos Bombeiros, no interior do Estado.
O horário da entrega é das 9:00 as 17H.

domingo, 20 de junho de 2010

Saramago, o último grande narrador

*Roberto Numeriano


Numa cultura dominante em que a pulsão da morte constitui a sua

essência, o escritor José Saramago, falecido aos 87 anos no dia 18 de

junho, foi uma brilhante e genial exceção. Português da aldeia de

Azinhaga, filho de pais pobres da região do Ribatejo, Saramago não era

homem de concessões hipócritas quanto a princípios morais e políticos

nos quais acreditava, e, por isso mesmo, numa época em que tudo está à

venda ou pode ser relativizado em nome de projetos pessoais e / ou de

grupos, ele se manteve coerente até o fim da vida. Para o bem da alta

literatura, dos ideais socialistas e da própria humanidade.

Antigo militante do Partido Comunista Português, Saramago não era

“comunista de carteirinha” por acaso. Filiou-se ao PCP em 1969, quando

Portugal ainda vivia a ditadura salazarista. O ato foi apenas a

formalização de uma militância socialista que vinha de longa data,

efeito da sensibilidade moral de um jovem que, tendo nascido no meio

de pobres e miseráveis, cedo discerniu as causas da desigualdade

social e econômica dos portugueses. Aluno brilhante, teve de abandonar

o colégio porque seus pais não podiam pagar seus estudos.

Podia, pela revolta, renegar e esconder sua origem pobre. Podia, como

fazem muitos na ascensão social, defender idéias da classe que

espoliava os lavradores e proletários do Ribatejo. Podia, por

vergonha, fingir que nunca foi pobre. Podia, simplesmente, esquecer.

Mas há gente que nasce para lembrar, porque nunca esquece de si mesmo

em suas origens. E lembrar por si e pelos outros, pelos que têm boca e

língua, mas nunca são escutados; têm olhos e visão, mas são invisíveis

em um mundo onde a luz parece se projetar apenas sobre os bens, a

riqueza, o luxo, o poder e a ostentação.

Em Saramago, essas dimensões de mestre do romance e de ativista

político e social se imbricavam sem que uma tolhesse ou recalcasse a

outra. Foram sempre a expressão de uma persona criativa e combativa,

rica de uma humanidade onde percebemos a sabedoria dos simples de

coração, o humor, a luta dos deserdados, a crítica social e dos

(hipócritas) costumes, a denúncia da cegueira de um mundo onde a morte

inspira a política do capital, o alerta a respeito da alienação

coletiva dos seres humanos, embrutecidos na malha da indústria

cultural da incultura.

O poder de sua fábula traduzia justamente este universo, e não por

acaso pode explicar o fato de alguns o considerarem “difícil” e ao

mesmo tempo ele ser tão lido e admirado por milhões de pessoas, em

várias línguas. Em um dos seus raros acertos, o comitê de literatura

lhe concedeu o Prêmio Nobel em 1998.

Saramago é, possivelmente, o último grande narrador da humanidade,

considerada esta em sua dimensão de um espírito ou idéia universal. Em

suas obras, não há como não nos reconhecermos como seres humanos

completos, na dor ou na alegria, vivos ou mortos, duvidando dos deuses

e das crenças, amando e buscando. Sua morte marca (e aqui a frase

feita cabe) o fim de uma época em que a literatura está moribunda e

submetida aos escapismos de estilos que apenas revelam sua pobreza.

Também simbolicamente, sua morte ocorre em um momento no qual há uma

pulsão de morte no movimento de forças econômicas e políticas

erguendo-se do espólio neoliberal em vários países europeus, numa onda

neofascista que criminaliza migrantes, trabalhadores, etnias não

brancas, ativistas políticos e sociais de esquerda, além de estudantes

e desempregados.

Contra tudo isso, o grande narrador português nos deixou uma obra para

travar um combate que significa a permanência de uma luz que ele fez

brilhar nos seus personagens. Em Memorial do Convento, um dos seus

grandes romances, os protagonistas Baltasar Sete-Sóis e Blimunda

Sete-Luas são a quintessência do amor perene entre um homem e uma

mulher, para além do tempo, das fogueiras da Inquisição, da velhice.

Quem lê a obra e vê a vida de Saramago, sente que ele tinha o mesmo

amor pela humanidade.

*Roberto Numeriano é cientista político (UFPE), professor, jornalista e

candidato do PCB ao Governo do Estado de Pernambuco.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A questão é o Socialismo - (1976) José Saramago


Do alto da sua tribuna, o presidente da Assembléia da República não vê a Nação: vê (quando estão todos) 263 deputados que, pela graça da aritmética, a representam. Está a Direita, está o Centro, está a Esquerda. Ninguém precisa de (se) interrogar sobre o que seja a Direita, ninguém acha oportuno averiguar se o Centro o é de fato, mas todos nos inquietamos com a Esquerda, com o passado, o presente e o futuro da Esquerda. Falta saber (o tempo o virá a dizer, por força) se essa inquietação é sinal de saúde ou de doença, da Esquerda e de quem para ela se volta interrogativo, com uma preocupação porventura autêntica, mas não destituída de algum comprazimento. Outra vez em Portugal se tornou mais fácil falar das coisas do que fazê-las, outra vez (passe a banalidade da alusão) cuidamos mais de discutir o sexo angélico do que de investigar os modos de levar os anjos a fazer filhos, sejam os ditos anjos machos ou fêmeas.

A questão que importaria pôr (segundo entendo) não é a da Esquerda, mas a do Socialismo. E isto sabendo que mesmo a troca não esclareceria radicalmente o «objeto» em análise: afinal, se sobre a Esquerda muito se borda, sobre o Socialismo muito se remenda. Mas, neste nosso caso português, obrigados que fomos, durante duas gerações, a falar de Esquerda por não poder dizer Socialismo, mal me parece que voltemos a hábitos antigos: há aqui um (decerto) involuntário escamoteamento do problema central, talvez um gosto (escolástico?) de sabatina, um jogo floral que não será para passar o tempo, mas durante o qual o tempo passará irremediavelmente. Ora, se somos pobres de muita coisa, também o somos de tempo. E se não temos sido brilhantes administradores de divisas, pior o teremos sido dos nossos minutos.

A questão, insisto, é a do Socialismo. E o Socialismo, dizem-no os manuais, e não poderia ser senão isso, é a propriedade coletiva dos meios de produção, e o mais que politicamente, ideologicamente e economicamente daí decorre, ou entretanto para aí concorreu. Posto o que (linear será, mas exato) começa a tornar-se claro que a linha que separa a Esquerda da Direita, isto é, a fronteira que divide o campo político que quer o Socialismo do campo que o não quer, passa pelo interior do Partido Socialista. Não é isto novidade para ninguém, mas o inquérito obriga a repeti-lo.

Desta maneira creio que se torna evidente um dos motivos da dificuldade de encontro e diálogo das forças políticas que se reclamam de Esquerda, e portanto de Socialismo: interclassista, como declaradamente o é e com algum oportunismo se gaba, o Partido Socialista nunca poderia ser, todo ele, socialista. A questão do «socialismo democrático», tão agitada para lucros de propaganda eleitoral e proveitos de batalha ideológica, é uma falsa questão: juntar a «socialismo» o adjetivo «democrático» não representa nem esclarecimento nem rigor nem adicionação de qualidade: é puro compromisso, é plataforma intima, é tentativa de conciliação entre classes dentro de um partido que, por isso mesmo, exibe ou esconde o seu programa consoante a parte do eleitorado a que se dirige.

Por aqui se concluirá que, segundo entendo, a questão da Esquerda, logo a questão do Socialismo, tem de passar por uma definição do Partido Socialista no que toca ao lugar que ocupará (ou não) na futura luta, ou, se a linguagem parecer demasiado bélica, no futuro empenhamento das forças de Esquerda. A grande responsabilidade do Partido Socialista tem sido a de paralisar, pela sua mesma contradição intima, a irrecusável definição: é possível, por isso, afirmar que, no sentido mais rigoroso do termo, o Partido Socialista adiou o Socialismo, Porque o adiou dentro de si próprio.

Imaginemos, porém, que a definição se faz, que coeso ou após divisão um Partido Socialista emerge, e o desenho político da Esquerda ganha nitidez suficiente e contorno organizável. Imaginemos, também, que, pelo contrário, todo o Partido Socialista se desloca para a direita, deixando, como pontualmente já deixou, nesse movimento, algumas franjas competentes mas sem relevância bastante para constituírem, elas, o Partido Socialista. No primeiro caso, teremos diante dos olhos, pela primeira vez desde Abril de 74, a expressão política real da vontade socialista global, conservando-se o esquema organizacional partidário nascido com a revolução; no segundo caso, veremos melhor e avaliaremos o tempo perdido, e também a dimensão do equívoco que foi a vida política portuguesa: saberemos que andamos a viver de palavras quando nos deveríamos ter alimentado muito mais de atos. Num caso e noutro, o relógio marcará a hora das decisões: definida a Esquerda (não fixada para o resto dos séculos, mas coerente e coincidente nas linhas básicas de um projeto comum), definir-se-á como força(s) política(s) para o Socialismo. Começaremos então a saber (ou saberei eu, se outros já o sabiam antes) do que andamos a falar.

Mas uma coisa é possível adiantar desde já, e essa não é nova nem sequer específica do nosso País: a questão da hegemonia política partidária. O argumento já clássico entre nós (extensivo, até, ao sector sindical) é o duma pretensa hegemonização que o Partido Comunista procuraria estabelecer em todas as formas de aproximação com outras forças políticas. A afirmação faz-se uma e muitas vezes, e fica no ar, condiciona os juízos e, portanto as decisões: é um sintoma da insegurança de quem assim se queixa ou acusa, de falta de confiança nos recursos próprios ou na sua consistência ideológica. Enquanto o fantasma da hegemonização não for afastado, a Esquerda (tomada, repito, como vontade socialista conjunta) não se aproximará, não será frente, não se empenhará conjuntamente como tal. Viverá dispersa como convém à Direita e, como à Direita convém, lutará entre si. Profundamente, essa é a crise da Esquerda, e o advérbio significa, neste lugar, que muito do que se passa na política portuguesa é do foro psicológico: andam por aí abundantes complexos de Édipo, fúrias assassinas contra o Pai, e frustrações de toda a ordem (não é por acaso que o processo político tem atraído tanto a atenção de psicanalistas, mas talvez não seja também por acaso que os próprios psicanalistas têm passado ao lado da questão essencial, que é, para o caso, e neste meu ver de leigo, a do Partido Comunista como agente de «produção psicológica», quer individualmente quer coletivamente).

Mas existe de fato uma crise da Esquerda? É óbvio que sim. Porém, não se trata de uma crise mórbida, efeito de bactéria ou vírus introduzido num corpo saudável, e agora febril, também não é uma crise de crescimento, ou melhor, para o crescimento - a perturbação, o desconcerto, a desarmonia do corpo que invade cada vez mais o espaço e tem de adaptar-se a ele e a si próprio; será antes uma crise não de identidade, mas para a identidade. A Esquerda portuguesa, como um todo, não se conhece entre si, nem se reconhece no conjunto. Este é o obstáculo imediato, barreira que é necessário ultrapassar, sob pena grave: a de atirar para muito longe, por nossas próprias e inábeis mãos, a esperança do Socialismo.

Encontremo-nos, pois, e confrontemos. Sabendo cada um o lugar que ocupa, agora, no sector da Esquerda que for o seu, sem sobrevalorização nem subvalorização do que, efetivamente, esse sector representar como expressão coletiva. E tenhamos em vista que o objetivo é o Socialismo. A Esquerda não é um fim em si, um modo vitimizante ou triunfalizante de estar no mundo: é uma estrutura, um instrumento, uma organização. Que, como todas as coisas, serão julgados pelos resultados. E nós de caminho.

José Saramago
de 16/11/1922
há 18/06/2010

Morre a cegueira e fica a lucidez


Antonio Alves da Silva Junior*
Hoje, 18/06/2010, as 8:00 da manhã (no horário de Brasília), morria de forma tranqüila em sua residência na ilha espanhola de Lanzarote, aos 87 anos de vida e luta ao lado da classe trabalhadora e de todos os oprimidos pelo capitalismo, o escritor português José Saramago.
Nascido José de Sousa Saramago, no dia 16 de Novembro de 1922, porém sendo registrado como no dia 18. Motivado pela falta de condições da família, que para não pagar multa por se ter passado do prazo para o registro do pequeno Saramago utilizaram desse artifício. Acreditem que o pequeno seria simplesmente “José de Sousa”, porém, de forma inexplicável, o funcionário lhe deu a acunha de “Saramago”, designação de uma variedade de erva daninha, que seria um nome imortalizado na literatura mundial, pela critica contumaz ao poder instituído e ao sistema capitalista, com suas formas e ferramentas de dominação no mundo.
Criticou a igreja e seus dogmas, escreveu crônicas, foi jornalista e um dos mais importantes intelectuais a lutar por uma sociedade sem classes, onde os opressores não teriam vez e os trabalhadores passariam a ter voz.
Literato reconhecido e premiado por sua obra foi agraciado em 1998 pelo Nobel de Literatura, já tendo acumulado diversos prêmios pelas suas obras que tanto serviam para a reflexão sobre a sociedade em que vivemos, como o “Ensaio sobre a cegueira” e “intermitência da morte”, “ensaio sobre a lucidez” e tantos outros, que se torna incalculável a contribuição que esse revolucionário deixou para a humanidade.
Aderiu ao Partido Comunista Português em 1969, ao qual permaneceu fiel até o fim de sua vida.

Lista de obras escritas por José Saramago:

Terra do Pecado (romance), Lisboa, 1947
Os Poemas Possíveis (poesia), Lisboa, 1966
Provavelmente Alegria (poesia), Lisboa, 1970
O Embargo, Lisboa, 1973
A bagagem do viajante (crônicas), Lisboa, 1973
As Opiniões que o DL teve, Lisboa, 1974
O Ano de 1993 (poesia), Lisboa, 1975
Manual de Pintura e Caligrafia (romance), Lisboa, 1976
Os Apontamentos (crônicas), Lisboa, 1976
Objeto Quase (contos), Lisboa, 1978
A Noite (teatro), Lisboa, 1979
O Ouvido (conto), in "Poética dos Cinco Sentidos", 1979
Que Farei com este Livro? (teatro), Lisboa, 1980
Levantado do Chão (romance), Lisboa, 1980
Viagem a Portugal (viagens), Lisboa, 1981
Memorial do Convento (romance), Lisboa, 1982
O Ano da Morte de Ricardo Reis (romance), Lisboa, 1984
Deste Mundo e do Outro (crônicas), Lisboa, 1985
A Jangada de Pedra (romance), Lisboa, 1986
A Segunda Vida de Francisco de Assis (teatro), Lisboa, 1987
História do Cerco de Lisboa (romance), Lisboa, 1989
Canto ao romance, romance ao canto, in Vértice. II Série, Lisboa, nº21 (Dez.1989) O Evangelho Segundo Jesus Cristo, (romance), Lisboa, 1991
In Nomine Dei, (teatro), Lisboa, 1993
Cadernos de Lanzarote (diário I), Lisboa, 1994
Ensaio sobre a Cegueira, (romance), Lisboa, 1995
Cadernos de Lanzarote (diário II), Lisboa, 1995
Moby Dick em Lisboa, (crônicas), Lisboa, 1996
Cadernos de Lanzarote (diário III), Lisboa, 1996
O Conto da Ilha Desconhecida (conto), Lisboa, 1997
Todos os Nomes, (romance), Lisboa, 1997
Cadernos de Lanzarote (diário IV), Lisboa, 1997
Cadernos de Lanzarote (diário V), Lisboa, 1998(?)
Uma voz contra o silêncio, Lisboa, 1998
Discursos de Estocolmo, Lisboa, 1999
Folhas políticas 1976-1998, Lisboa, 1999
A caverna, (romance), Lisboa, 2000.
Caim, (romance) Lisboa, 2009


Última mensagem deixada em seu blog:


"Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma."

Quando a natureza se revolta


Acompanhamos ontem, 17/06/2010, o pesadelo coletivo em Recife, ocasionado pelas fortes chuvas, o que poderemos chamar de caos de uma cidade que há muito não respeita a natureza e os seus espaços.
Sentimos na pele o que ocorre quando a natureza em sua revolta demonstra que não vai mais tolerar a invasão e poluição de mangues, rios, córregos. E que não há o que fazer,quando a irá acontece, pois as vítimas inocentes da degradação da natureza pela ganância dos capitalistas sempre são os trabalhadores que vivem em suas comunidades. Fica como lição o engarrafamento de mais de 5 horas, as 9 mortes que aconteceram nas mais variadas partes da cidade, a enchente de vários rios na região metropolitana e o pesadelo coletivo que demonstra que ainda teremos muitas dores de cabeça neste inverno que está só dando os primeiros sinais de que a natureza não vai tolerar mais a irresponsabilidade humana.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Memória de um tempo de luta



Antonio Alves da Silva Junior

Vivemos tempos de dúvidas cruéis, aonde os antigos heróis se tornaram vilões, corrompidos pela estrutura estatal e se metamorfoseando naquilo que tanto combateram. E os que tinham o projeto inicial de transformar a sociedade, agora são os responsáveis pela administração do que criticavam.
Galeano disse em um de seus livros que a esquerda, principalmente na America Latina, tem certo problema de lateralidade, por assim dizer, pois a maioria dos presidentes conquista o governo com a esquerda e governam com a direita.
O que até agora se confirma, sem medos ou culpas. Pois o que antes era um processo de transformação e luta com uma proposta de mudança, se converte em luta eleitoral, o programa é rebaixado para garantir um número de votos que se fazem necessários para as transformações. Daí se ganha o governo, mais existe o problema da governabilidade, e as transformações são deixadas de lado. Fazem as alianças e abre mão de outras questões importantes para garantir que tudo fique certinho, sem que nenhum setor da sociedade se contrarie e escutamos a frase clássica: A política é a arte do possível.
O que me dá certo conforto, não como criatura nostálgica, que acha que antes existiam maiores mobilizações na sociedade em busca de mudanças. Mais sim como lutador e educador popular, é que sabemos que ainda há quem lute, mesmo em situação tão adversa. Bertold Brecht disse que infeliz é a nação que precisa de heróis e complemento a frase, dizendo que mais triste ainda é o povo que perdeu a sua memória.
Não honramos os nossos heróis. Tantos Capristanos, Lamarcas, Marighelas e tantos outros que lutaram pela liberdade, uns perseguidos e torturados, outros mortos e desaparecidos em nome dessa frágil democracia.
Na historia dos opressores esses personagens são esquecidos propositalmente, mais em uma frase celebre de Marx se confirma na Ideologia Alemã, que “as idéias dominantes, são as idéias das classes dominantes” e todos estamos assimilando que os heróis foram culpados pelo seu extermínio ou perseguição sofreram e que os verdugos eram responsáveis por manter a ordem que era necessária para o progresso do capitalismo no nosso país.
A nossa memória histórica recente é subvertida de tal forma que os crimes cometidos contra os lutadores do povo são arquivados e esquecidos enquanto os seus executores são agraciados e seguem impunemente por cima das covas clandestinas de seus antigos rivais, que lutaram contra a opressão que o país vivia.
Enquanto não abrirem os arquivos da ditadura militar e os carrascos permanecerem impunes, os corpos desaparecidos, de tantos heróis que se sacrificaram pela nossa frágil democracia não iram descansar. E em uma Canção profética, as palavras de Gonzaguinha serão lembradas, para que esse momento de nossa historia política nunca seja esquecida: “Quando o sol nascer, é que eu quero ver quem se lembrará, quando amanhecer, é que eu quero ver que recordará, eu não posso esquecer essa legião que se entregou por um novo dia, eu quero é cantar essa mão tão calejada que nos deu tanta alegria... e vamos a luta!”. Seremos sempre, os que não vão permitir que os crimes desse período sejam esquecidos.

sábado, 12 de junho de 2010

Quando o mundo esta ao avesso




Antonio Alves da Silva Junior*




Muitas vezes me pergunto o que será o certo num mundo onde o erro é o que predomina? Isso pode parecer simples, porém é um dos nossos maiores problemas, e posso colocar alguns exemplos simples que irão fustigar a consciência dos seres humanos que tem acesso aos meus questionamentos.
Se a Terra é um espaço finito, com uma quantidade limitada de recursos naturais e de espécies de vida animal e vegetal sobrevivendo em meio à selvagem fome de lucro de algumas poucas corporações. Porque não se tem uma atitude seria contra os que abusam do poder econômico e político para saquear ainda mais a mãe terra e colocar em prática novas formas de sobreviver sem colocar em risco a própria existência humana?
Porque só 5% da água existente no mundo é potável e grande parte dessas reservas naturais já estão sendo apropriadas pelas indústrias que ao mesmo tempo são responsáveis pela poluição do planeta?
O que fazemos trabalhando mais de 40 horas semanais, sendo explorados e massacrados, recebendo um salário injusto, enquanto alguém enriquece sem produzir nada e ainda se apropria da riqueza gerada com o nosso trabalho só porque é o dono dos meios de produção?
Porque as máquinas foram desenvolvidas para diminuir a necessidade de esforço humano, garantir a maior produtividade e lucratividade, e os seres humanos mudaram de posição? Pois agora são as máquinas que controlam a vida da humanidade, e não mais os humanos que controlam as máquinas?
O que é a liberdade de expressão em um país onde cinco empresas-famílias são donas dos meios de comunicação e a população comum pode ter liberdade de ouvir, mais nunca a de questionar?
Porque será que a fome ainda existe? Se já sabemos que produzimos alimentos que dariam para saciar as necessidades básicas da humanidade, e ainda permiti-se que crianças morram de fome no mundo?
Essas são só algumas questões que podem trazer descobertas fantásticas do nosso mundo que está ao avesso, pois somos ensinados a odiar e não a amar. A acumular e não a dividir. A humilhar e não a solidarizar. Infelizmente estamos vivendo em um mundo onde para se ser pessimista, temos que esperar que as coisas melhorem.

sábado, 5 de junho de 2010

A incrível história do homem que tinha medo do amor


Antonio Alves da Silva Junior*
Existem pessoas que não acreditam na vida. Outras que não acreditam nos sonhos. Existem as que não acreditam no que os olhos vêm e o que o coração sente. Essa historia fala desse tipo de gente, tão comum nos dias atuais, mais que é difícil de perceber ou de admitir que isso ainda exista. O homem que tem medo de amar.
Essas criaturas são adversas, não falam de sentimentos, não acreditam em ninguém, todas as mulheres são perigosas, pois podem manipular o seu pobre coração de homem forte, que deve ser livre e não se prender a ninguém. Esse homem tentava se esconder atrás de sua brutalidade e força. Para afastar de qualquer forma a felicidade que vive andando por ai, de mãos dadas com a paixão. Porém, essa pobre criatura começa a perceber que a amargura da vida não trará a felicidade que ele acreditava existir sem o amor.
Em sua pobre vida de homem trabalhador, explorado noite e dia no seu trabalho, pensando em enricar de tanto trabalhar, não se preocupava em amar, pois o que ele tinha aprendido na vivência das experiências alheias é que quem ama sofre e o sofrimento não tem nada a ver com a felicidade. Tinha beleza, tinha força, tinha até certa alegria, porém não era feliz, pois o amor que ele desprezava ao qual não dava a mínima importância, lhe perseguia nas noites de solidão entre os bares e lugares.
A dor da solidão o maltratava sempre quando saia com os poucos amigos que tinha, pois todos paqueravam e se divertiam com as historias de conquistas e alegrias amorosas, e ele, na sua habitual monotonia, fazia de conta que não era importante para ele viver um amor.
Quando retornava para casa, a única companhia digna de conviver as noites chuvosas e tristes era a solidão, que massacrava o orgulho másculo e embriagado de depressão, que buscava rever a sua vida e entender porque a falta de uma pessoa para amar lhe fazia sofrer tanto, já que sabia que amar também lhe traria sofrimento.
Quando o amor acenava para ele, na forma de uma mulher bonita e sensual, ele não acreditava, tinha medo de dizer o que pensava e o que aquilo poderia ocasionar, pois o medo de amar estava de mãos dadas com o medo da rejeição. E o medo de não ser correspondido era o centro do problema. Em uma bela noite quente de verão, essa pobre criatura conhece uma moça. Uma bela negra de olhos cor de mel e sorriso de marfim, que começa a conversar com ele como se nada quisesse, e nada pretendesse. Ele, na inocência de quem nunca tinha amado, não percebeu que a mulher também tinha medo de amar e que no fundo também era outra pobre criatura que tinha muito em comum com ele, gostava de filmes, livros, tinha poucas amizades e era considerada uma pessoa reservada, seria.
A chegar determinada hora, ao badalar dos sinos, como em um conto de fadas o encanto tinha que acabar... Quando ela diz que tem que ir por que a hora já avançava por demais, em um ato de desespero ele pede o número de seu telefone e diz que gostaria de revela. Ela consentiu e diz que foi maravilhoso ter passado aquela noite conversando com alguém tão interessante. O que a moça não percebe é que ambos estavam começando a descobrir o que é o amor.
E assim surgi a felicidade e o amor na vida de pessoas que não acreditam no amor e que só sabem contar dinheiro e acumular tristeza, esquecendo que a solidão é o mal do nosso século.