domingo, 29 de agosto de 2010

Os indiferentes


Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.

sábado, 14 de agosto de 2010

A imagem e sua representação na arte


As idéias e conceitos sobre a arte e suas diversas expressões, com a sua áurea de significados e transformações nos mais diversos momentos da vida, seja no cotidiano ou em exceções extraordinárias. Remete-nos a uma serie de reflexões sobre a construção e interpretação das imagens, da arte e de todos os processos de reprodução da realidade e sua perspectiva subjetiva como expressão artística.
Percebemos, irremediavelmente, que em todas as culturas e civilizações, a imagem tem um forte referencial no imaginário dos povos, sejam elas paisagens, personagens históricos ou representações de questões subjetivas, que são internas ao individuo que as produziu. Isso é tão notório, que acabamos por assumir uma postura de iconolatria (adoração de ícones, nas mais diversas formas e formatos), internalizando com isso, conceitos morais e religiosos.
A questão da imagem é nuclear em todas as sociedades por ser uma representação do real sem ser o real, uma objetividade subjetiva, a cópia de uma materialidade existente que é apresentada em uma determinada forma ou perspectiva, seja ela objetiva ou subjetiva. Como aponta no inicio do texto de Jorge Coli, em uma reflexão de Erwin Panofsky: “Diante do retrato fiel, nós reconhecemos quem conhecemos, mas ninguém confundi o retratado com o retrato”.
Guardando essa mistificação do que é a imagem e a arte, temos uma percepção bastante relevante, que comporta a idéia paradigmática de que mesmo sendo uma representação do que é retratando, essa imagem mantém a sua essência diante do seu ser ali representado.
O texto que temos como base para essa análise, coloca de forma bastante compreensível a questão do acúmulo cultural para o vislumbre da arte como obra prima, colocando como importante o treino da percepção da imagem pelas pessoas.
A polêmica suscitada entre a opinião e visão de mundo de Proust e Benjamim, colocam uma serie de questões relevantes sobre o processo de imagem e obra de arte, ainda mais com o advento das novas tecnologias ao quais os dois autores tiveram contato em sua forma primária, em especial a fotografia.
Benjamin, um dos percussores da Escola de Frankfurt, coloca em debate em seu famoso texto “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, que a obra de arte era sacra em sua essência e gênese. E a beleza era reproduzida nessa ação humana de representar algo em esculturas ou pinturas, era aos poucos sendo copiada pela própria necessidade das pessoas, em uma ação mimogénetica de reprodução e cópia.
Em sua perspectiva, Benjamin ainda coloca o desenvolvimento técnico das formas de reprodução, como os pintores que copiam as obras consagradas, os escultores que se utilizam do mesmo expediente. O desenvolvimento da fotografia, que coloca em certo aspecto a banalização da imagem e, levando em consideração o momento histórico em que o autor viveu a ação do cinema com ação técnica de arte mais avançada naquele período. Na opinião de Benjamin, a obra de arte contém um momento único, em que o artista imprimi em alguma matéria a sua inspiração ou capacidade de representação na forma em que vai ser executada, colocando como valor Máximo esse momento único de emoção e transformação, sendo corrompido exatamente pela cópia que se banalizou com o desenvolvimento técnico da arte.
Na perspectiva adotada por Proust, a fotografia acaba tendo um papel relevante na produção cultural, pois possibilita o contato com obras que podem ser inacessíveis devido a questões geográficas, além de ser uma possibilidade que no texto apresentado é colocado como “terceira margem”, fazendo uma analogia entre a obra de arte e as possibilidades de margem do rio. Pois, a dimensão da arte, pode perder a sua áurea artística, porém, não a sua essência do objeto representado.
Neste debate extemporâneo, acreditamos ser duas dimensões necessárias para a nossa análise do que seria a arte e a sua reprodução, tendo o entendimento que não conseguiremos encerrar esse tema. Percebemos que as análises feitas por Benjamin e Proust abordam a questão da imagem de formas diferentes, porém com colocações complementares, entendendo que as novas técnicas de produção e reprodução estão inseridas na nossa realidade.

Antonio Alves da Silva Junior

domingo, 8 de agosto de 2010

A falta de projeto político no processo eleitoral (A falsa polarização construída)


Há muito, estamos passando pelo falso consenso construído em busca da utilização de direitos políticos de cada cidadão. Se observarmos bem a situação construída há vários anos em todo o mundo, o que veremos é a hegemonia de uma forma de pensamento em vários níveis de todas as sociedades.
Acabamos seguindo o modelo estadunidense de dês-democratização fantasiada de abertura para todos, com dois Partidos da ordem que manipulam a população e atende aos interesses de seus padrinhos lobbystas. O que, com certeza, nos deixa com essa preocupante certeza. A de que organizações privadas comandam as forças políticas, que por sua vez, manipulam essa prática midiática que acontece no Brasil e no mundo, para a construção permanente do voto útil.
Há mais de dois anos percebemos a ação dos grandes órgãos de imprensa brasileira trabalhando a construção da polarização de varias candidaturas, seja nos Estados como nacionalmente, como exemplo maior dessa construção, vemos as candidaturas de Serra e Dilma, ignorando de forma “democrática” as outras candidaturas sérias, que demonstram alternativas de projetos políticos sociais, que seguem sendo ignoradas por seguirem outra lógica de pensamento e não a visão neoliberal que se tornou tão comum nestes últimos 20 anos.
É no mínimo uma situação absurda, se concebemos uma estrutura séria e democrática de eleições com essa prática nefasta. Pois o poder econômico é ainda hoje o elemento determinante nas eleições, os candidatos são votados antes pelos empresários que os apoiam e serão os seus financiadores, e os eleitores serão seduzidos por propostas demagógicas e estridentes, provocando a ilusão de que as alternativas não são necessárias, pois não iriam “perde” o voto, que na verdade é pré-pago pelas empresas que financiam e constroem o que seus papagaios midiáticos irão repetir.
A nossa frágil democracia acredita na mordaça. Pois as forças antagônicas ao Capital, sempre são as que sofrem com a falta de espaço para propagandear os seus projetos políticos, e como sabemos que esse processo eleitoral é totalmente manipulado pela criação dessa figura do voto útil, o segundo turno é só uma configuração criada para confirma aos empresários se o investimento foi realizado com sucesso, sem debates de projetos políticos, e sim, com o espetáculo midiático promovido pelo melhor marqueteiro. Não com idéias que mudaria o quadro de desigualdade social, mais com sorrisos forçados que ficam bem em fotos e banners. Infelizmente é essa democracia desdentada que temos, seremos sempre reféns do poder econômico e político das grandes empresas.
Antonio Alves – Educador Social