Por Pedro Burgos
Há mais ou menos 8 anos, quando trabalhava em um jornal de Brasília, recebi a informação de que a Secretaria de Cultura do governo do DF estava dando dinheiro demais para apoiar eventos religiosos, e de menos para, por exemplo, festivais importantes de rock ou teatro. A fonte disse que a coisa poderia ser a ponta de um iceberg. Conversei portelefone com algumas pessoas e fui à Câmara Distrital encontrar com um deputado que frequentemente era fonte quando o assunto era bater no governo. Neste dia especificamente, ele abriu a tela do Sistema de Acompanhamento Orçamentário (o nome é muito maior, a sigla é a mesma em quase todos os lugares: SIAFI), digitou a senha que então pouca gente tinha e falou pra eu me divertir. O sistema era meio tosco e lento, mas com algumas buscas descobri quanto de dinheiro já havia sido pago a cada evento e, mais importante, quem recebia. Não tinha muito tempo e imprimi algumas páginas. Checando melhor, na redação, descobri que quem recebia o dinheiro era o assessor de um deputado, na agência da própria Câmara, tudo na cara dura. Mais alguns telefones e estava pronta a reportagem com chamada de capa no jornal de domingo. Bastou uma senha, menos de 10 minutos, e um pequeno escândalo (comparativamente) foi revelado. Ser jornalista, muitas vezes, é ser “hacker de resultado”.