Por Victória A. P. Mantoan
O tema da luta dos negros no Brasil é fundamental. Estamos chegando ao 13 de Maio, comemoração do fim da escravatura no país. Pode-se desenvolver, a partir da própria data comemorativa, vários questionamentos a respeito da luta negra e do seu espaço dentro da sociedade brasileira. A simbologia de um dia em que foi definida a abolição da escravatura marca uma evolução social, mas não deixa de ser em si uma data simbólica.
Infelizmente a escravidão não teve seu fim pela percepção dos núcleos de poder da nossa sociedade de que os negros eram indivíduos e mereciam respeito e direitos iguais aos dos outros cidadãos. Ela acabou porque economicamente era muito mais interessante para a burguesia que vinha tomando o poder transformar essa mão-de-obra em assalariada e, consequentemente, em mercado consumidor para a indústria que vinha surgindo.
Anos após esse impulso não tão bondoso, mas ainda assim significativo para os negros, seus descendentes são tidos como maioria no Brasil pela última pesquisa realizada pelo IBGE. Ou seja, a comunidade negra já ocupa uma parcela enorme da sociedade brasileira e, ainda assim, continua, em boa parte, numa situação periférica. Os brancos continuam a dominar o ambiente das grandes empresas e escritórios, das salas de aulas das universidades públicas e privadas e do corpo docente das melhores universidades do país. Qual o significado disso?
Continuamos a trabalhar com avanços simbólicos. Esquecemo-nos que estamos diante de uma herança sócio-cultural que subjuga o pobre e o negro, que muitas vezes são a mesma pessoa. Temos que reconhecer que muito foi feito para amenizar a diferença de direitos decorrente da cor, mas muito pouco avançou no sentido de passar essas mudanças para o cotidiano.
Hoje, é ilegal ter preconceitos contra os negros, não se pode deixar de empregar uma pessoa porque ela é negra, não se pode impedir que ela entre no seu restaurante pela sua cor, nem que ela namore sua filha; mas isso acontece. Talvez não com uma proibição direta, pode ser um preconceito mascarado, ou, até mesmo, um preconceito histórico, que nós, enquanto sociedade, ainda praticamos.
Nenhum projeto social conseguiu mudar a situação dos negros Não se conseguiu colocar uma maioria negra nas escolas, nas universidades, por conseqüência, muitos têm dificuldade de se inserir no mercado de trabalho de forma a receberem uma remuneração mais adequada e, logo, deixam de ter o acesso aos mesmos produtos e serviços que as elites econômicas têm.
As conquistas do movimento negro não devem, é claro, ser desvalorizadas, e são significativas, mas não se pode deixar de ver que o caminho ainda é muito longo e que a herança que nos foi deixada ainda é muito forte. Estamos vivendo de sucessivos “trezes” de Maio.
Victória A. P. Mantoan é estudante de Jornalismo.
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