Por Carlos Castilho
Até bem pouco tempo atrás uma afirmação como a contida neste título seria considerada uma heresia e uma violação dos princípios profissionais. É que os jornalistas detinham a exclusividade na confirmação e contextualização de fatos, dados e notícias, porque eram poucas as fontes de informação. Mas isso mudou radicalmente.
A internet provocou uma avalancha informativa inédita na história da humanidade, os profissionais do jornalismo já não dão mais conta da checagem de fatos e com isso são atropelados pela onda de denúncias como as que assistimos atualmente na política brasileira. O resultado são matérias capengas que deixam mais dúvidas do que respostas, como acaba de mostrar o meu colega Mauro Malin, aqui no OI.
A maioria dos jornais simplesmente ignora a grande e crescente diferença entre a oferta (material produzido por jornais) e a demanda (avalancha informativa descontextualizada), mas alguns grandes veículos como o norte-americano The Washington Post e outros bem menores, como o também norte-americano The Register Citizen, de Torrington, Connecticut, criaram sistemas onde os leitores podem corrigir informações erradas ou acrescentar detalhes omitidos na reportagem.
São softwares extremamente simples, e alguns até gratuitos, que permitem ao leitor complementar o trabalho do repórter ou editor incorporando-se à produção de informações — numa atividade que, no final das contas, vai servir para todos nós. A participação do leitor no processo de coleta e verificação de notícias está longe de diminuir a relevância do jornalista profissional na produção de informações de interesse púbico.
Só que ele não pode mais executar essa tarefa sozinho. O volume de trabalho cresceu demais e as empresas de comunicação passaram a ter outras prioridades na tentativa de salvar seus investimentos. O que os jornalistas deveriam fazer agora é descer do pedestal e propor mecanismos que permitam a participação do leitor na checagem de informações, porque a publicação de fatos e dados errados é a principal responsável pela desinformação pública e pelas notícias enviesadas para beneficiar este ou aquele político, empresário ou personalidade.
Os leitores estão sendo chamados a assumir uma responsabilidade que é algo novo para a esmagadora maioria das pessoas. Fomos todos educados para consumir de forma passiva as notícias publicadas na imprensa, depois digeridas sem qualquer restrição, e que acabavam condicionando nossas decisões. O leitor precisa saber que isso mudou e que ele acabará pagando as consequências do erro não corrigido.
No passado era muito difícil retificar uma informação jornalística publicada por conta dos procedimentos burocráticos. Mas, hoje, o leitor pode ter a seu dispor ferramentas tecnológicas que facilitam enormemente essa tarefa. A imprensa brasileira ainda não deu à participação do leitor na correção de erros o mesmo destaque dado por alguns jornais estrangeiros.
Jornais como Globo, Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo usam as ferramentas do Twitter e do Facebook basicamente para colher reações dos seus leitores. As principais reportagens do Globo e Estadão têm áreas de comentários de leitores, enquanto a Folha disponibiliza uma seção semanal para opiniões de seu público. Mas todos esses jornais dedicam à participação do leitor uma atenção quase secundária, demonstrando que ainda falta muito para que assumam a real dimensão do papel do público na nova ecologia informativa gerada pela internet.
O leitor deixou de ser basicamente um índice nos relatórios de audiência para anunciantes. Também não é mais só um mero consumidor a ser seduzido com prêmios e facilidades de pagamento. O cidadão que compra jornal, ouve rádio, assiste à TV ou visita páginas jornalísticas na Web passou a ser um parceiro — e a mídia tem tudo a ganhar se deixar de vê-lo apenas como um cliente ou uma pessoa que pode ajudá-la a conseguir mais anúncios.
A participação do leitor é uma necessidade, mas tem também os seus problemas. O maior deles é a falta de conhecimentos mínimos sobre como trabalhar com informação, em especial sobre credibilidade do dado, fato ou notícia. Caberá aos jornalistas dar ao público o preparo necessário.
Muitos profissionais poderão dizer que treinamento de leitores não é sua responsabilidade. Mas os jornalistas que já testaram a mudança de relação com o público não têm do que se queixar. Aqui mesmo neste blog, foram os leitores que me corrigiram dezenas de vezes e sem eles eu já teria passado por maus momentos.
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