Começou na sexta-feira audiência para determinar se Bradley Manning, suposto alimentador do Wikileaks, deve ser submetido à corte marcial
Por BBC Brasil
Visto como herói por ativistas antiguerra e traidor por quem alega que o vazamento colocou vidas em risco, Manning passou, em pouco tempo, de uma pessoa desconhecida a uma pedra no sapato do governo americano.
De sua cela, não muito longe da Casa Branca, Manning se converteu em uma causa célebre para ativistas de direitos humanos, bem como um símbolo para críticos progressistas da Presidência de Barack Obama.
Manning, que enfrenta mais de 22 acusações – incluindo uma de “colaborar com o inimigo” -, é acusado pelo Pentágono de transmitir ao WikiLeaks centenas de milhares de documentos oficiais relacionados às guerras do Iraque e do Afeganistão, vídeos comprometedores e milhares de telegramas do Departamento de Estado americano.
O soldado, que neste sábado completa 24 anos, está há desde 2010 preso no Estado da Virgínia, incomunicável, aguardando uma data para seu julgamento. Se condenado, pode ser sentenciado à prisão perpétua.
Protestos
Segundo seu advogado, David E. Coombs, Manning tem sofrido “humilhações” no cárcere, e não pôde ser visitado por um relator especial da ONU sobre tortura nem por integrantes da ONG Anistia Internacional, que queriam verificar seu estado de saúde.
As condições em que ele está preso se converteram em motivo de protesto para defensores de direitos humanos e em uma dor de cabeça para Obama, que foi forçado a responder às queixas dos ativistas progressistas que ajudaram em sua campanha à Presidência em 2008 e cujo apoio ele necessitará para o pleito presidencial de 2012.
Esses ativistas têm organizado protestos em frente à prisão onde Manning está detido, arrecadado fundos para a defesa do soldado e se manifestado para a imprensa.
“Se Manning é culpado, que seja julgado, condenado e castigado conforme a lei. Mas seu tratamento deve respeitar a Constituição (…). Não há desculpas para este tratamento degradante e desumano antes de um julgamento”, escreveram mais de 250 acadêmicos e juristas em uma carta aberta a Obama.
Entre esses juristas está Laurence Tribe, que deu aulas de direito a Obama na Universidade de Harvard e que certa vez declarou que o presidente dos EUA tinha sido seu melhor aluno.
Agora, Tribe afirma que as condições de prisão de Manning parecem ser “ilegais e imorais”.
Trato severo?
Vazamento atribuído a Manning (foto) expôs documentos de guerra dos EUA
Em resposta, Obama disse recentemente que o tratamento dado a Manning não é excessivo, alegando que o Pentágono lhe assegurou que as condições de prisão “são apropriadas e cumprem nossos requisitos básicos”.
O caso Manning também provocou baixas dentro do próprio governo Obama. O ex-porta-voz do Departamento de Estado PJ Crowley renunciou em março após criticar publicamente as condições de prisão do soldado.
Mas se por um lado progressistas se queixam de possíveis excessos, de outro, críticos à direita pedem que Manning seja tratado com ainda mais rigor pelo governo.
“Diria que este caso deveria considerar a pena de morte (para Manning). Ele claramente colaborou com o inimigo de uma forma que poderia levar à morte de um soldado americano ou daqueles que cooperaram conosco”, disse em entrevista o congressista republicano Mike Rodgers.
Vazamento
Os documentos cujo vazamento é atribuído a Manning tiveram grande repercussão internacional quando foram divulgados pelo WikiLeaks e por jornais de todo o mundo.
Um dos vídeos vazados mostrava um helicóptero militar americano matando 12 pessoas – entre elas dois jornalistas – em Bagdá, em 2007.
O WikiLeaks também divulgou milhares de telegramas diplomáticos e militares relacionados à guerra iraquiana, colocando a diplomacia americana em saias justas.
Ainda que o WikiLeaks não tenha dito quem vazou os documentos, Manning foi delatado por um hacker. O soldado foi então preso em julho de 2010.
Em comunicado, o WikiLeaks declarou que, “se Manning é de fato a fonte (do vazamento), ele conseguiu sozinho mudar a vida de centenas de milhares de pessoas para melhor”.
O argumento do WikiLeaks é de que o material contribuiu para a Primavera Árabe e “expôs torturas e erros em todos os cantos do mundo, responsabilizando diplomatas e políticos por palavras, acordos e pactos realizados a portas fechadas”.
Por outro lado, críticos dizem que os vazamentos divulgaram segredos que podem expor militares americanos e seus colaboradores em missões ao redor do mundo.
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