Por Miriam Nobre
Em 2010, a Marcha Mundial de Mulheres realizará sua terceira ação internacional, que terá mobilizações em mais de 40 países em torno de quatro campos principais: trabalho das mulheres (por autonomia econômica); bem comum e serviços públicos; violência contra as mulheres; e por paz e desmilitarização.
Nos últimos 10 anos, a Marcha Mundial das Mulheres (MMM) vem se constituindo como um movimento internacional feminista, anticapitalista, irreversível e incontornável, ou seja, capaz de incidir na conjuntura. Neste momento, preparamos nossa Terceira Ação Internacional, que se desenvolverá entre março e outubro de 2010. As ações internacionais ocorrem de cinco em cinco anos e são momentos em que, em todo mundo, as coordenações nacionais da MMM concentram forças para impor nossa agenda e deslocar a conjuntura a favor das mulheres.
Na ação deste ano teremos momentos nacionais descentralizados, com mobilizações em mais de 40 países em torno de quatro campos principais: trabalho das mulheres (por autonomia econômica); bem comum e serviços públicos; violência contra as mulheres; e por paz e desmilitarização. Em seguida, momentos regionais na Ásia (em maio, nas Filipinas), Europa (em junho, na Turquia) e Américas (em agosto, na Colômbia). E, finalmente, um ato internacional em Bukavu, na República Democrática do Congo, entre 14 e 17 de outubro.
Em março, as jornadas de luta nos países traduzirão nossos campos de ação em demandas que respondem a contextos nacionais. Também buscam resgatar o sentido de luta por emancipação das mulheres, que está na origem do 8 de Março: celebraremos os 100 anos de declaração do dia internacional das mulheres, ideia que nasceu na II Conferência Internacional Socialista de Mulheres, realizada em Copenhague em 1910.
Já em outubro, nos reuniremos na República Democrática do Congo para denunciar o uso da violência contra as mulheres como arma de guerra, assim como as empresas transnacionais que se beneficiam dessa situação por meio do controle de minerais, da biodiversidade ou pela venda de armas. Além disso, fortaleceremos a participação das organizações de mulheres da região na resolução de conflitos.
Esperamos mostrar que é possível desmilitarizar a área e questionar o paradigma atual, em que as missões militares da ONU, chamadas de forças de estabilização ou “de paz”, se tornam permanentes. Elas são vistas pela população local como tropas de ocupação, provocam uma distorção na economia local pelos altos salários, em dólar, de seus funcionários e militares, e criam uma rede de exploração sexual de meninas e mulheres ao seu redor. Representam também altos gastos dos diversos países com manutenção de infraestrutura bélica, recursos que poderiam ter destino melhor se aplicados em saúde e educação.
Dialogar com a sociedade No Brasil, como parte da Terceira Ação Internacional, 3 mil mulheres de todo o país vão marchar 120 km de Campinas até São Paulo, entre 8 e 18 de março, e debater os conteúdos de nossa plataforma. Apresentaremos à sociedade brasileira e aos tomadores de decisão, em âmbito nacional e municipal, como vemos os problemas de nosso país e nossas alternativas desde um ponto de vista feminista.
Afirmaremos uma vez mais que é preciso mudar a vida das mulheres para mudar o mundo, e mudar o mundo para mudar a vida das mulheres, tudo ao mesmo tempo e agora. Mostraremos que, ao contrário do que se diz por aí, ainda falta muito para conquistarmos igualdade de fato e acabar com o patriarcado, especialmente no caso das mulheres pobres, negras e indígenas. Por isso, o slogan de nossa ação em todo o mundo expressa a contínua necessidade de lutar: “Estaremos em marcha até que todas as mulheres sejam livres!”.
Sabemos que é possível reorganizar os modelos de produção e serviços, cuidando das pessoas e tendo como centro o bem-estar de todas e todos, não o lucro das empresas. Além de reivindicarmos emprego com direitos e igualdade salarial, apoio à economia solidária e a condições de produção e comercialização para a agricultura camponesa e a pesca artesanal, colocamos em debate a responsabilização individual das mulheres pelo trabalho doméstico e lutamos por sua reorganização. Essa responsabilidade deve ser compartilhada com os homens e o Estado, a partir de políticas que implantem serviços públicos como creches, lavanderias e restaurantes coletivos, e cuidados para idosos e doentes. Para exemplificar: de acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), em 2007 apenas 17,1% das crianças de 0 a 3 anos frequentavam creches no Brasil, o que corresponde a 1,7 milhão de alunos entre as 11 milhões de crianças desta idade. São na maior parte as mulheres – mães, avós, vizinhas – que têm que se virar para conseguir combinar o trabalho e garantir o cuidado das outras quase 9 milhões de crianças...
Convidamos a sociedade a refletir e superar o machismo e atitudes que tratam as mulheres como mercadorias ou objetos sem vontade própria e a serviço do desejo dos homens. A maioria dos casos de violência contra as mulheres é cometida por homens de sua relação (maridos, namorados, pais), no campo ou na cidade. As mulheres também têm direito a decidir sobre os rumos de sua vida e de sua sexualidade, por isso lutamos pela legalização do aborto e contra a homofobia.
A autonomia das mulheres se relaciona com a soberania dos povos. As mulheres querem decidir sobre seus territórios, por isso a Marcha defende as reformas agrária e urbana, assim como a demarcação de terras indígenas e quilombolas. Para que tenhamos terra para produzir alimentos, para que as cidades sejam acolhedoras, para que as pessoas tenham acesso a água, saneamento, energia, educação, saúde e lazer.
A distribuição da riqueza e do poder é a base de um Brasil melhor. Por isso, lutamos contra a criminalização da pobreza e dos movimentos sociais e contra o processo crescente de militarização da sociedade, que se manifesta por meio de atitudes repressivas e violentas do Estado, como os inúmeros assassinatos cometidos pelas polícias, ou na crença de que as armas são capazes de resolver a questão da segurança pública. Denunciamos como essas ações atingem, sobretudo, os negros e negras.
Por fim, a Marcha reconhece a responsabilidade do governo brasileiro em promover a integração dos povos e a cooperação, tendo a solidariedade como princípio. Assim, demandamos uma atuação que questione a militarização crescente do mundo (Barack Obama, Prêmio Nobel da Paz, propôs para 2011 o maior orçamento militar da história – US$ 708 bilhões, um crescimento de 7,1% em relação a 2010). E afirmamos que o Haiti não precisa de intervenção militar, mas de respeito à soberania de seu povo e do intercâmbio de conhecimentos em áreas como saúde, educação e captação de águas.
Na ação deste ano teremos momentos nacionais descentralizados, com mobilizações em mais de 40 países em torno de quatro campos principais: trabalho das mulheres (por autonomia econômica); bem comum e serviços públicos; violência contra as mulheres; e por paz e desmilitarização. Em seguida, momentos regionais na Ásia (em maio, nas Filipinas), Europa (em junho, na Turquia) e Américas (em agosto, na Colômbia). E, finalmente, um ato internacional em Bukavu, na República Democrática do Congo, entre 14 e 17 de outubro.
Em março, as jornadas de luta nos países traduzirão nossos campos de ação em demandas que respondem a contextos nacionais. Também buscam resgatar o sentido de luta por emancipação das mulheres, que está na origem do 8 de Março: celebraremos os 100 anos de declaração do dia internacional das mulheres, ideia que nasceu na II Conferência Internacional Socialista de Mulheres, realizada em Copenhague em 1910.
Já em outubro, nos reuniremos na República Democrática do Congo para denunciar o uso da violência contra as mulheres como arma de guerra, assim como as empresas transnacionais que se beneficiam dessa situação por meio do controle de minerais, da biodiversidade ou pela venda de armas. Além disso, fortaleceremos a participação das organizações de mulheres da região na resolução de conflitos.
Esperamos mostrar que é possível desmilitarizar a área e questionar o paradigma atual, em que as missões militares da ONU, chamadas de forças de estabilização ou “de paz”, se tornam permanentes. Elas são vistas pela população local como tropas de ocupação, provocam uma distorção na economia local pelos altos salários, em dólar, de seus funcionários e militares, e criam uma rede de exploração sexual de meninas e mulheres ao seu redor. Representam também altos gastos dos diversos países com manutenção de infraestrutura bélica, recursos que poderiam ter destino melhor se aplicados em saúde e educação.
Dialogar com a sociedade No Brasil, como parte da Terceira Ação Internacional, 3 mil mulheres de todo o país vão marchar 120 km de Campinas até São Paulo, entre 8 e 18 de março, e debater os conteúdos de nossa plataforma. Apresentaremos à sociedade brasileira e aos tomadores de decisão, em âmbito nacional e municipal, como vemos os problemas de nosso país e nossas alternativas desde um ponto de vista feminista.
Afirmaremos uma vez mais que é preciso mudar a vida das mulheres para mudar o mundo, e mudar o mundo para mudar a vida das mulheres, tudo ao mesmo tempo e agora. Mostraremos que, ao contrário do que se diz por aí, ainda falta muito para conquistarmos igualdade de fato e acabar com o patriarcado, especialmente no caso das mulheres pobres, negras e indígenas. Por isso, o slogan de nossa ação em todo o mundo expressa a contínua necessidade de lutar: “Estaremos em marcha até que todas as mulheres sejam livres!”.
Sabemos que é possível reorganizar os modelos de produção e serviços, cuidando das pessoas e tendo como centro o bem-estar de todas e todos, não o lucro das empresas. Além de reivindicarmos emprego com direitos e igualdade salarial, apoio à economia solidária e a condições de produção e comercialização para a agricultura camponesa e a pesca artesanal, colocamos em debate a responsabilização individual das mulheres pelo trabalho doméstico e lutamos por sua reorganização. Essa responsabilidade deve ser compartilhada com os homens e o Estado, a partir de políticas que implantem serviços públicos como creches, lavanderias e restaurantes coletivos, e cuidados para idosos e doentes. Para exemplificar: de acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), em 2007 apenas 17,1% das crianças de 0 a 3 anos frequentavam creches no Brasil, o que corresponde a 1,7 milhão de alunos entre as 11 milhões de crianças desta idade. São na maior parte as mulheres – mães, avós, vizinhas – que têm que se virar para conseguir combinar o trabalho e garantir o cuidado das outras quase 9 milhões de crianças...
Convidamos a sociedade a refletir e superar o machismo e atitudes que tratam as mulheres como mercadorias ou objetos sem vontade própria e a serviço do desejo dos homens. A maioria dos casos de violência contra as mulheres é cometida por homens de sua relação (maridos, namorados, pais), no campo ou na cidade. As mulheres também têm direito a decidir sobre os rumos de sua vida e de sua sexualidade, por isso lutamos pela legalização do aborto e contra a homofobia.
A autonomia das mulheres se relaciona com a soberania dos povos. As mulheres querem decidir sobre seus territórios, por isso a Marcha defende as reformas agrária e urbana, assim como a demarcação de terras indígenas e quilombolas. Para que tenhamos terra para produzir alimentos, para que as cidades sejam acolhedoras, para que as pessoas tenham acesso a água, saneamento, energia, educação, saúde e lazer.
A distribuição da riqueza e do poder é a base de um Brasil melhor. Por isso, lutamos contra a criminalização da pobreza e dos movimentos sociais e contra o processo crescente de militarização da sociedade, que se manifesta por meio de atitudes repressivas e violentas do Estado, como os inúmeros assassinatos cometidos pelas polícias, ou na crença de que as armas são capazes de resolver a questão da segurança pública. Denunciamos como essas ações atingem, sobretudo, os negros e negras.
Por fim, a Marcha reconhece a responsabilidade do governo brasileiro em promover a integração dos povos e a cooperação, tendo a solidariedade como princípio. Assim, demandamos uma atuação que questione a militarização crescente do mundo (Barack Obama, Prêmio Nobel da Paz, propôs para 2011 o maior orçamento militar da história – US$ 708 bilhões, um crescimento de 7,1% em relação a 2010). E afirmamos que o Haiti não precisa de intervenção militar, mas de respeito à soberania de seu povo e do intercâmbio de conhecimentos em áreas como saúde, educação e captação de águas.
Miriam Nobre é coordenadora do Secretariado Internacional da Marcha Mundial das Mulheres.
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