segunda-feira, 14 de junho de 2010

Memória de um tempo de luta



Antonio Alves da Silva Junior

Vivemos tempos de dúvidas cruéis, aonde os antigos heróis se tornaram vilões, corrompidos pela estrutura estatal e se metamorfoseando naquilo que tanto combateram. E os que tinham o projeto inicial de transformar a sociedade, agora são os responsáveis pela administração do que criticavam.
Galeano disse em um de seus livros que a esquerda, principalmente na America Latina, tem certo problema de lateralidade, por assim dizer, pois a maioria dos presidentes conquista o governo com a esquerda e governam com a direita.
O que até agora se confirma, sem medos ou culpas. Pois o que antes era um processo de transformação e luta com uma proposta de mudança, se converte em luta eleitoral, o programa é rebaixado para garantir um número de votos que se fazem necessários para as transformações. Daí se ganha o governo, mais existe o problema da governabilidade, e as transformações são deixadas de lado. Fazem as alianças e abre mão de outras questões importantes para garantir que tudo fique certinho, sem que nenhum setor da sociedade se contrarie e escutamos a frase clássica: A política é a arte do possível.
O que me dá certo conforto, não como criatura nostálgica, que acha que antes existiam maiores mobilizações na sociedade em busca de mudanças. Mais sim como lutador e educador popular, é que sabemos que ainda há quem lute, mesmo em situação tão adversa. Bertold Brecht disse que infeliz é a nação que precisa de heróis e complemento a frase, dizendo que mais triste ainda é o povo que perdeu a sua memória.
Não honramos os nossos heróis. Tantos Capristanos, Lamarcas, Marighelas e tantos outros que lutaram pela liberdade, uns perseguidos e torturados, outros mortos e desaparecidos em nome dessa frágil democracia.
Na historia dos opressores esses personagens são esquecidos propositalmente, mais em uma frase celebre de Marx se confirma na Ideologia Alemã, que “as idéias dominantes, são as idéias das classes dominantes” e todos estamos assimilando que os heróis foram culpados pelo seu extermínio ou perseguição sofreram e que os verdugos eram responsáveis por manter a ordem que era necessária para o progresso do capitalismo no nosso país.
A nossa memória histórica recente é subvertida de tal forma que os crimes cometidos contra os lutadores do povo são arquivados e esquecidos enquanto os seus executores são agraciados e seguem impunemente por cima das covas clandestinas de seus antigos rivais, que lutaram contra a opressão que o país vivia.
Enquanto não abrirem os arquivos da ditadura militar e os carrascos permanecerem impunes, os corpos desaparecidos, de tantos heróis que se sacrificaram pela nossa frágil democracia não iram descansar. E em uma Canção profética, as palavras de Gonzaguinha serão lembradas, para que esse momento de nossa historia política nunca seja esquecida: “Quando o sol nascer, é que eu quero ver quem se lembrará, quando amanhecer, é que eu quero ver que recordará, eu não posso esquecer essa legião que se entregou por um novo dia, eu quero é cantar essa mão tão calejada que nos deu tanta alegria... e vamos a luta!”. Seremos sempre, os que não vão permitir que os crimes desse período sejam esquecidos.

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