segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Le Monde tem razão


Por Leila Cordeiro
do Direto da Redação
    O colunista José Inácio Werneck abordou em sua última coluna aqui no DR o problema do ensino no Brasil considerado um dos mais atrasados do mundo baseado no relatório do P.I.S.A. (Programme for International Student Assessment) . Eu gostaria de voltar ao assunto analisando outro aspecto da educação em nosso país: a conhecida diferença entre o ensino das escolas públicas e privadas.

    Segundo o relatório do P.I.S.A., a distância que separa essas duas realidades aumentou nos últimos tres anos no país, indicando a disparidade dos níveis de conhecimento entre os alunos das duas instituições em leitura, matemática e ciência.

    A situação da educação no Brasil é tão grave que chamou a atenção da mídia internacional, a mesma que tem exaltado o país nos últimos anos, classificando-o como uma verdadeira potência em ascenção. Mas o assunto educação inspirou um artigo do jornal francês Le Monde que o considerou o “calcanhar de Aquiles” do Brasil.

    O Le Monde não economizou nas críticas. Depois de elogios ao nosso progresso nos campos econômico e social, o jornal francês assinalou que o país permanece estagnado numa área crucial para o crescimento de toda nação, a educação.

    O jornal critica o ensino público brasileiro, chamando-o de “medíocre”, com professores despreparados culturalmente e mal pagos. Ressalta que há uma injustiça evidente no sistema educacional do país.

    As crianças que estudam em escolas públicas, exatamente por não receberem educação suficiente, são as que não conseguem espaço nas universidades gratuitas, onde os exames de admissão são mais rígidos. Em sentido contrário, os que podem pagar altas mensalidades cobradas pelos colégios privados preparam-se melhor para o vestibular e, consequentemente, garantem seus lugares nos centros educacionais financiados com dinheiro público, as universidades gratuitas.

    Infelizmente, essa é uma realidade que se observa no Brasil há pelo menos três décadas e acho que todos nós nos perguntamos o que teria acontecido para que a educação pública no país tivesse se deteriorado a esse ponto. Lembro-me que nos anos setenta o aluno que conseguisse entrar numa escola gratuita de ensino médio passando nas difíceis provas de seleção, estava apto para, mais tarde, prestar vestibular para qualquer universidade federal..

    O tempo passou e as escolas da rede pública tornaram-se inviáveis não só pela qualidade do ensino como fisicamente. O que se vê são prédios antigos, mal cuidados, salas de aula sem mesas e cadeiras suficientes para os alunos, instalações precárias e professores mal pagos que, pela necessidade de outros empregos para completar o salário, muitas vezes não dão a assistência ideal às turmas nas quais leciona..

   Evidentemente, todos nós que tivemos acesso à educação nos preocupamos com essa queda de qualidade do ensino público brasileiro. Da minha parte, penso que a solução é a mais simples possível: priorizar a educação custe o que custar, nem que para isso tenha que se sacrificar projetos em outras áreas do governo.

   Quando se mora fora e se vê como funciona o ensino público em outros países do chamado primeiro mundo, ficamos ainda mais aflitos, porque tudo funciona com tanta facilidade que não entendemos por que razão o nosso Brasil não consegue montar uma rede de ensino público decente.

   A receita está na ponta de língua de qualquer pessoa: falta vontade política e prioridade orçamentária. Mas quem vai se preocupar com isso se o destino do país está exatamente nas mãos daqueles que podem pagar os mais caros colégios para os filhos, que depois acessam as universidades gratuitas?
Essa é a lamentável e triste rotina do nosso ensino. O Le Monde sabe das coisas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário