quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O legal e o imoral


Por Eliakim Araujo

    O mundo do jornalismo televisivo dos Estados Unidos foi sacudido na última sexta-feira com a notícia da demissão de Keith Olbermann (foto), um combativo e polêmico âncora de esquerda, que ocupava o horário nobílíssimo, de 8 às 9 da noite (prime time), na rede de TV a cabo MSNBC. Quando faltavam poucos minutos para terminar seu programa, Olbermann se despediu e disse que ele e a emissora não tinham chegado a um acordo para a renovação de seu contrato.

    Nenhuma das duas partes se manifestou sobre a verdadeira razão do abrupto rompimento do relacionamento profissional. E o que deveria ser um acontecimento normal na vida de uma emissora de TV deixou no ar a suspeita de que a demissão tenha motivação política. Olbermann enfrentava de peito aberto a extrema direita do jornalismo americano, abrigada sob o logotipo da Fox News.

    Em novembro, Olbermann foi suspenso dois dias quando a emissora ficou sabendo que ele havia feito doações de campanha para três candidatos democratas nas últimas eleições, um deles a deputada Gabrielle Giffords, essa que foi gravemente ferida no atentado do último dia 8, no Arizona. A NBC News alegou que seus empregados são proibidos de fazerem doações políticas, sem prévia aprovação. Uma alegação suspeita porque Olbermann e os demais âncoras do horário nobre da emissora nunca esconderam sua oposição aos direitistas da Fox News.

    Há fontes, entretanto, que levantam a hipótese de que Olbermann pode ser a primeira vítima do acordo praticamente fechado da compra da NBC Universal – parceira da MSNBC - pela Comcast, a gigante da TV a cabo e internet nos EUA. Pode ser que uma guinada na linha editoral da MSNBC esteja a caminho. Nesse caso, outros âncoras da ala esquedista da mídia televisiva, como Rachel Madoff, que entra em seguida a Olbermann, às 9 da noite, estariam com os dias contados. Pura especulação, mas quando se trata de enfrentar o poder das grandes corporações tudo é possível.

    Aqui vale explicar que a chegada de Olbermann à MSNBC há quase oito anos mexeu com o universo do jornalismo de opinião. Graças à sua postura ideológica, a emissora viu crescer seus indices de audiência noturna e descobriu que poderia entrar no nicho ideológico entre o conservadorismo extremado da Fox e a neutralidade da CNN. Outros âncoras da ala esquedista foram contratados e embora não tenham conseguido superar a concorrente Fox, a MSNBC tirou da CNN a liderança no “prime time”.

    A se confirmar o afastamento de Olbermann por motivo político, pode se concluir que o universo corporativo está empenhado em limpar da mídia norte-americana os profissionais de pensamento progressista. Tudo como parte do projeto cujo objetivo final seria a retomada da Casa Branca em 2012, impedindo um segundo mandato democrata.

    Projeto que se iniciou lá atrás, no início de 2009, logo que Obama assumiu o governo. Desde lá, segundo afirma o Washintgon Post neste fim de semana, as grandes corporações começaram a soltar dinheiro nas mãos de políticos republicanos dispostos a boicotar as iniciativas de Obama. Quem acompanhou esses dois primeiros anos de governo democrata, sabe das dificuldades enfrentadas pelo presidente para implantar as reformas prometidas durante a campanha.

    A reportagem do Washington Post revela que as novas lideranças republicanas na Câmara dos Deputados – sobretudo o novo presidente John Boehner e o líder da maioria, agora republicana, Eric Cantor - receberam muitos milhões de dólares em doações de bancos, seguradoras de saúde e outras grandes empresas interessadas em reverter políticas democráticas que afetassem seus interesses.

    Em outras palavras, compraram políticos influentes do Partido Republicano com o objetivo de impedir o avanço das reformas do presidente Obama, desde questões ambientais até as regulações de Wall Street.

    Doações para campanhas políticas são legais nos EUA, mas há um limite entre o legal e o imoral. E quando grandes corporações se juntam para comprar consciências de parlamentares em defesa de seus interesses, a moral foi para o brejo.

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