Por Jacques Marcovitch
A governança global, apesar das funções atribuídas ao G20 após a crise de 2008, tem falhado na construção de vários acordos inadiáveis
A correta percepção dos riscos é uma chave de boa governança. Esse conceito de gestão ganha crescente espaço na área pública e no universo corporativo. Permite visualizar melhor os desafios a enfrentar e, com base na realidade, empreender medidas preventivas ou corretivas. Tomemos dois exemplos concretos: um risco local, já priorizado no primeiro mês do novo governo brasileiro, e os riscos globais desta década, estudados em relatório apresentado em Davos.
A miséria, fruto mais perverso da injusta distribuição de renda, é um risco explosivo. Pretende o governo Dilma criar um modelo de gestão para identificar os bolsões de carência máxima e neles operar, com metas preestabelecidas de transferência de renda, serviços de saúde, saneamento básico e educação.
Não será trivial o cadastramento dessas pessoas e, no prazo de quatro anos, torná-las capazes de sair da miséria extrema por seus próprios meios. O governo acertaria caso ampliasse as parcerias com a iniciativa privada e a sociedade civil para atingir essas metas.
Globalmente, o relatório sobre riscos do Fórum Econômico Mundial é um alerta sobre ameaças econômicas, geopolíticas e tecnológicas ou ambientais e oferece possíveis estratégias de enfrentamento.
Na América Latina, em paralelo às notórias conquistas do Brasil, persistem carências de infraestrutura, falhas na regulação, comércio ilícito, crime organizado, perda da biodiversidade, vulnerabilidades às mudanças climáticas, eventos extremos, que têm vitimado centenas de famílias, e iniquidades sociais ainda não corrigidas.
Crescem, no mundo inteiro, as disparidades de riqueza e de renda.
A governança global, apesar das funções atribuídas ao G20 após a crise de 2008, tem falhado na construção de vários acordos inadiáveis. Há três principais focos de ameaças. O primeiro, de cunho macroeconômico, deriva de colapsos nos ativos, guerras fiscais e volatilidades no câmbio.
Entre muitas causas, destaca-se o excesso de endividamento das grandes economias. Tentativas de ação global conjunta para uma regulação financeira mais rígida foram bloqueadas pelos conflitos de interesse entre as partes. Outro foco de ameaças é a economia ilegal, que somente na área de comércio movimentou em 2009 cerca de US$ 1,3 trilhão, gerando custos para atividades lícitas e fragilizando os Estados nacionais. Por último, lembremos as ameaças ambientais, exacerbadas pelo crescimento expressivo da demanda por água, alimentos e energia, nas próximas duas décadas.
O amplo domínio do conhecimento fez quase tudo previsível. O imponderável tornou-se cada vez mais raro. Contam-se em dezenas os riscos globais identificados, exigindo novas competências humanas para ações cautelares ou de pronto efeito. Não devemos ignorar o sinal amarelo que está piscando no mapa-múndi.
JACQUES MARCOVITCH é professor titular da Faculdade de Economia e Administração e do Instituto de Relações Internacionais da USP e ex-reitor da universidade.
A correta percepção dos riscos é uma chave de boa governança. Esse conceito de gestão ganha crescente espaço na área pública e no universo corporativo. Permite visualizar melhor os desafios a enfrentar e, com base na realidade, empreender medidas preventivas ou corretivas. Tomemos dois exemplos concretos: um risco local, já priorizado no primeiro mês do novo governo brasileiro, e os riscos globais desta década, estudados em relatório apresentado em Davos.
A miséria, fruto mais perverso da injusta distribuição de renda, é um risco explosivo. Pretende o governo Dilma criar um modelo de gestão para identificar os bolsões de carência máxima e neles operar, com metas preestabelecidas de transferência de renda, serviços de saúde, saneamento básico e educação.
Não será trivial o cadastramento dessas pessoas e, no prazo de quatro anos, torná-las capazes de sair da miséria extrema por seus próprios meios. O governo acertaria caso ampliasse as parcerias com a iniciativa privada e a sociedade civil para atingir essas metas.
Globalmente, o relatório sobre riscos do Fórum Econômico Mundial é um alerta sobre ameaças econômicas, geopolíticas e tecnológicas ou ambientais e oferece possíveis estratégias de enfrentamento.
Na América Latina, em paralelo às notórias conquistas do Brasil, persistem carências de infraestrutura, falhas na regulação, comércio ilícito, crime organizado, perda da biodiversidade, vulnerabilidades às mudanças climáticas, eventos extremos, que têm vitimado centenas de famílias, e iniquidades sociais ainda não corrigidas.
Crescem, no mundo inteiro, as disparidades de riqueza e de renda.
A governança global, apesar das funções atribuídas ao G20 após a crise de 2008, tem falhado na construção de vários acordos inadiáveis. Há três principais focos de ameaças. O primeiro, de cunho macroeconômico, deriva de colapsos nos ativos, guerras fiscais e volatilidades no câmbio.
Entre muitas causas, destaca-se o excesso de endividamento das grandes economias. Tentativas de ação global conjunta para uma regulação financeira mais rígida foram bloqueadas pelos conflitos de interesse entre as partes. Outro foco de ameaças é a economia ilegal, que somente na área de comércio movimentou em 2009 cerca de US$ 1,3 trilhão, gerando custos para atividades lícitas e fragilizando os Estados nacionais. Por último, lembremos as ameaças ambientais, exacerbadas pelo crescimento expressivo da demanda por água, alimentos e energia, nas próximas duas décadas.
O amplo domínio do conhecimento fez quase tudo previsível. O imponderável tornou-se cada vez mais raro. Contam-se em dezenas os riscos globais identificados, exigindo novas competências humanas para ações cautelares ou de pronto efeito. Não devemos ignorar o sinal amarelo que está piscando no mapa-múndi.
JACQUES MARCOVITCH é professor titular da Faculdade de Economia e Administração e do Instituto de Relações Internacionais da USP e ex-reitor da universidade.
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