quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Mídia financeira



    Grupos de mídia corporativos são ligados às frações dominantes mais reacionárias. Iniciativas contra-hegemônicas não podem se afastar das lutas reais. 
   
Pedro Carrano
de Foz do Iguaçu (PR) 

    A mídia corporativa brasileira reproduz a ideologia do Capital financeiro. Na visão do jornalista e blogueiro Luis Nassif, a política econômica brasileira na sua História sofreu o que chama de movimentos pendulares entre uma orientação liberal, e noutros momentos de intervenção estatal. “A imprensa sempre representa o poder anterior (…) Na era do café, a imprensa defendia a política que beneficiava esse setor. Quem propusesse algo em outra linha, era criticado”, comentou o jornalista. 

    Desse ponto de vista, na década de 1990, as notícias eram centradas apenas na manutenção da inflação e na análise ligada aos setores financeiros. “O câmbio estava quebrando a indústria moveleira e isso não ia para o jornal”, critica. Na atualidade, Nassif reivindica que os meios de comunicação reproduzem um discurso nitidamente neoliberal, pregando a manutenção de altas taxas de juros, contrários ao investimento do Estado e ao gasto com programas sociais – em que pese o atual cenário político apresentar outras visões. 

    Em entrevista ao Brasil de Fato, Nassif criticou o uso das ferramentas de internet a serviço de ataques políticos a serviço da candidatura Serra - o que marcou o segundo turno das eleições de 2011, e gerou uma resposta importante por parte da “blogosfera”, na avaliação do jornalista. “Quatro anos antes das eleições haviam montado redes profissionais de comentaristas, blogueiros. Pessoas que ganhavam até R$6 mil por mês. Não estou falando dos blogueiros conservadores, mas uma questão de quadrilha. O que houve no meio disso foi profissional. Iam em lanhouses, para fazer ataques difamadores”, afirma Nassif, ele mesmo vítima de e-mails apócrifos em seu nome. 
Revolução tecnológica ou mais uma ferramenta?

    “As lutas seguem sendo físicas. Com um ativismo virtual, só se conseguem melhorias virtuais”, pondera Pascual Serrano, fundador da página Rebelión, que tem sido uma rede para reportagens e artigos de esquerda desde vários países. Serrano, no fundo, toca em um tema recorrente levantado pelos conferencistas no Encontro Mundial de Blogueiros: a relação entre as mídias sociais e os protestos que acontecem em pelo menos três continentes. A visão predominante no encontro é oposta à da mídia hegemônica. Na visão oficial, os movimentos “espontâneos” se devem à emergência das ferramentas digitais e se limitam nelas, não em organizações sociais e políticas. “De um próprio blog não podemos colaborar a um derrocamento de um modelo”, contradiz Serrano. 

    Osvaldo León, da America Latina em Movimiento (Alai - Equador) do mesmo modo é contrário ao que chama de “reativação do discurso determinista” em relação às novas tecnologias digitais. O comunicador contextualiza que, no auge da implantação de políticas neoliberais no mundo, ocorreram contraofensivas de novos movimentos sociais, como os zapatistas (1994), além do surgimento de organizações populares como a Coordinadora Latinoamericana de Organizaciones del Campo (Cloc), entre outras. Desde então, foram vistas, naquela década, marchas da Via Campesina, dos cocaleiros na Bolívia. As lutas em Seattle (1999) foram mais um momento dentro desse percurso histórico. 

    Para León, as experiências de luta que culminaram com a derrota do projeto estadunidense da Área de Livre Comércio para as Américas (Alca) geraram novas ações em comunicação e a demanda por novas ferramentas. Um dos lemas conhecidos no período (difundido pela rede Indymedia), dizia que: “não gosta da mídia, seja a mídia”.

    Na visão de Pascual Serrano, o aprofundamento da informação e da teoria são indispensáveis, frente ao predomínio de informações superficiais, como muitas vezes se confere no twitter e youtube,por exemplo. É o que pensa também Martin Becerra, pesquisador argentino, quem vê os limites das novas ferramentas de comunicação por agruparem a segmentos que, no geral, já possuem posicionamentos políticos semelhantes, analisa Becerra.

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