O presidente Evo Morales acusou os Estados Unidos de terem tentado golpes na Bolívia, Venezuela e no Equador, mesmo que sem sucesso, e de ter conseguido seu objetivo em Honduras. A denúncia do presidente boliviano se deu no marco da Conferência de Ministros de Defesa das Américas, que contou com a participação do secretário norte-americano Robert Gates.
A reportagem está publicada no jornal Página/12, 23-11-2010. A tradução é do Cepat.
“Devemos reconhecer, compatriotas latino-americanos: os Estados Unidos ganharam de nós em Honduras, onde consolidaram o golpe de Estado. O império norte-americano ganhou, mas também os povos da América na Venezuela, na Bolívia e no Equador ganhamos”, disse Morales ao abrir o encontro na cidade de Santa Cruz. Enquanto o presidente da Bolívia acusava Washington por orquestrar os le-vantamentos contra governos constitucionais da região, era atentamente escutado pelo secretário de Defesa norte-americano.
Poucas horas depois, Gates retornou ao seu país sem responder pessoalmente às palavras de Morales. As reações vieram da embaixada dos Estados Unidos em La Paz. “Lamentamos que o governo da Bolívia tenha perdido uma oportunidade para fazer progressos nos assuntos centrais da Conferência”, disseram os enviados da Casa Branca na capital boliviana.
Morales apelou a uma metáfora do futebol para dar conta dos golpes de Estado ocorridos na América Latina durante os últimos anos. “Com os Estados Unidos estamos 3 a 1”, afirmou o governante. Referindo-se à sua própria experiência com Washington, Morales denunciou que em 2008 o então embaixador norte-americano em La Paz, Philip Goldberg, organizou um golpe para acabar de forma antidemocrática com o seu governo. A Bolívia expulsou Goldberg em setembro desse ano e os Estados Unidos devolveram a gentileza, mandando de volta o embaixador boliviano em Washington, Gustavo Guzmán.
Ultimamente, houve alguns gestos com vistas a normalizar as relações, mas nenhum avanço firme foi concretizado. Também se referiu às tentativas sofridas pelo venezuelano Hugo Chávez. Fez menção ao golpe frustrado sofrido pelo equatoriano Rafael Carrea, em 30 de setembro, que incluiu seu sequestro durante horas por parte de efetivos policiais. Segundo Morales, os Estados Unidos só foram vitoriosos com a derrubada do hondurenho Manuel Zelaya, ocorrido em junho do ano passado.
“A Bolívia, sob o meu governo, terá acordos, alianças, com todo o mundo. Ninguém vai me proibir isso. Temos direitos, somos da cultura do diálogo”, acrescentou o presidente nesta segunda-feira. Morales se referiu às afirmações de Gates feitas no domingo, quando afirmou que La Paz e Caracas devem ter muitíssimo cuidado com a forma como interagem com Teerã, especialmente no que tem a ver com seu programa nuclear.
Além disso, o presidente boliviano disse aos ministros que era fundamental debater se se busca a segurança para toda a região ou só para Washington. Morales rechaçou as doutrinas da Casa Branca sobre o narcotráfico e o terrorismo, que só seriam um pretexto para intervir na América Latina. “Agora é o momento para que a Organização de Estados Americanos (OEA) absolva o seu legado de dupla moral e que finalmente faça todos os Estados membros cumprir os princípios e obrigações fundamentais da Carta Democrática Interamericana”, disparou.
A ministra de Defesa argentina, Nilda Garré, participa da reunião e propôs nesta segunda-feira a criação de um mecanismo de coordenação em matéria de defesa hemisférica, que seja aprovado por todos os países.
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