quarta-feira, 14 de setembro de 2011

11 de setembro: E se há 10 anos existisse o Twitter?


    As mudanças tecnológicas que ocorreram desde setembro de 2001 transformaram o modo como nos comunicamos e obtemos informações sobre eventos grandiosos.

Por Observatório da Imprensa [13.09.2011 14h49]
    Há 10 anos, quando terroristas atacaram os EUA na manhã de 11 de setembro, muita gente soube pela televisão. Pessoas presas dentro das torres do World Trade Center, em Nova Yorque, usaram seus telefones celulares para ligar para parentes e amigos. Pessoas nas ruas e em prédios próximos registraram muitas imagens. Mas o compartilhamento de informações com o mundo era mais limitado do que é hoje, na era das redes sociais na internet.
    Em artigo no Vancouver Sun [10/9/11], a jornalista Gillian Shaw compara o sistema de comunicação na época dos atentados de 2001 com o da tragédia, julho passado, na Noruega. Enquanto o assassino Anders Breivik caçava vítimas em um acampamento de verão na ilha de Utoeya, jovens em fuga postavam alertas online e descreviam para o resto do mundo a situação de terror que viviam naquele momento. Houve ainda quem usasse as redes para avisar que estava bem ou pedir ajuda para encontrar pessoas desaparecidas.
    Em março, logo depois do terremoto e tsunami que devastaram parte do Japão, o Google usou sua página de resposta a crises para publicar informações relativas ao desastre, incluindo uma ferramenta de busca de pessoas.
    Nos ataques de 11 de setembro de 2001, ligações e mensagens de voz foram o principal meio de comunicação, e mesmo esta comunicação foi prejudicada por conta dos sistemas de telefonia sobrecarregados – tanto pelo aumento no tráfego como pelos danos causados à infraestrutura. Mensagens de texto ainda eram limitadas comparadas a hoje, quando centenas de milhares delas são trocadas diariamente. Acessar contas de e-mail via celular também era algo raro.
    Desta forma, era difícil obter notícias de vítimas ou sobreviventes. Se existissem Twitter e Facebook, fotos de desaparecidos poderiam ser postadas e compartilhadas com o mundo todo em questão de minutos. Em 2001, as pessoas passaram a colar fotos de seus entes queridos pelas ruas de Nova York em busca de informações.
    “Se houvesse o YouTube em 2001 e os smartphones fossem tão comuns como agora, o mundo teria visto imagens em primeira mão do terror e da coragem das vítimas presas nas torres? As pessoas enviariam suas mensagens finais não apenas por ligações, mas por fotos, vídeos e posts em suas redes sociais, em transmissões que registrariam aqueles momentos de uma maneira que não poderia ser feita pela mídia tradicional?”, questiona Gillian.
    É claro que o tempo não volta, e só nos resta especular. Mas é fato que as mudanças tecnológicas que ocorreram desde setembro de 2001 transformaram o modo como nos comunicamos e obtemos informações sobre eventos grandiosos.
    “Depois de grandes desastres você tem um vácuo de notícias. Os jornalistas não chegaram ainda, a polícia e os serviços de emergência têm informações desencontradas”, diz Alfred Hermida, professor da escola de jornalismo da Universidade de British Columbia e autor do livro Participatory Journalism: Guarding Open Gates at Online Newspapers. “De repente, as mídias sociais preenchem este vácuo”.
Blogs
    “O que foi interessante em 11 de setembro é que na época dos ataques a mídia social teve um papel de disseminar a informação. Havia os blogs, as pessoas escreviam sobre suas experiências, havia memoriais nos blogs. Essencialmente, as pessoas estavam usando a tecnologia disponível na época, que eram os blogs”, continua o professor.
    Blogueiros postavam os mais variados textos sobre os atentados, desde os que queriam informar aos amigos que estavam bem, até os que organizavam campanhas, como um internauta que pediu para as pessoas doarem sangue. Hoje, no entanto, a participação seria instantânea, o evento seria contado em tempo real, e com direito a fotos e vídeos.
    “Se formos olhar o que acontece agora com as mídias sociais e as tecnologias móveis, temos dois efeitos”, diz Hermida. “Primeiro, eles amplificam. Segundo, eles ajudam a mobilizar. Imagine a quantidade de mensagens no Twitter. Essencialmente, as notícias chegam primeiro no Twitter; são os primeiros relatos de pessoas diretamente afetadas”.
Alcance
    Ainda que o termo “jornalismo cidadão” tenha se tornado comum nos últimos anos, grande parte das pessoas que compartilham informações nas redes sociais não pensa estar fazendo um trabalho jornalístico diante de uma tragédia – muitas estariam apenas contando para os amigos e conhecidos em sua rede o que está acontecendo ao seu redor. Estes amigos e conhecidos, por sua vez, compartilhariam aquele relato pessoal – sem os filtros da imprensa – a suas redes, ampliando cada vez mais seu alcance.
    Assim, o poder das redes sociais está na facilidade em se espalhar a informação. “O poder está em você poder mobilizar sua rede”, diz o professor. “Pela mídia social, você se conecta a alguém na sua rede, esse alguém se conecta a outro alguém na dele, e isso cresce exponencialmente”.
    Outro aspecto das mídias sociais é fornecer, via dados de celular, um canal de comunicação quando outros – como linhas telefônicas – falham. No terremoto do Japão, em alguns casos, ainda que o serviço de voz tivesse sido cortado, as pessoas conseguiram se comunicar por dados.
    “Você pode imaginar alguém preso nos destroços com um smartphone. Normalmente, as redes de telefonia estão sobrecarregadas e você não consegue fazer ligações, mas pode conseguir enviar uma mensagem de texto ou se conectar a uma rede móvel”, ressalta Hermida.
    Ainda que membros das equipes de resgate tenham ouvido toques de telefones nos destroços das Torres Gêmeas e por alguns dias sinais de celular tenham sido monitorados na região na esperança de encontrar sobreviventes, os telefones celulares não tiveram um papel tão relevante como provavelmente teriam hoje, quando é tão comum ter um aparelho. Na época, nem 40% da população americana tinha celulares; hoje, 96% tem. Estima-se que, até o fim do ano, um em cada dois americanos tenha um smartphone.
Monitoramento
    Os serviços de emergência e a polícia também passaram a fazer uso das redes sociais. Nos confrontos entre torcedores de hóquei e policiais em Vancouver, em junho, e nos distúrbios em diversas cidades do Reino Unido, em agosto, as redes foram usadas para identificar suspeitos e monitorar planos de novas ações. Nos EUA, a Comissão Federal de Comunicações anunciou que planeja atualizar o serviço telefônico de emergência 911 para que as pessoas possam enviar mensagens de texto, fotos e vídeos.
    Com as informações disponíveis nas redes sociais, o desafio é torná-las úteis e filtrar os erros e mentiras. Hermida alega que, ainda que não seja possível verificar cada mensagem, a resposta coletiva das redes é capaz de corrigir informações. Portanto, analisando as informações como um todo é possível ter uma noção melhor dos fatos. “O verdadeiro desafio não é a falta de informações. É como lidar com todas estas informações. Quando você recebe centenas de tweets e atualizações no Facebook por minuto, tem que entender como extrair algo dali”, resume o professor.
Publicado por Observatório da Imprensa.

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