Pesquisa conclui que os telespectadores da Fox News são muito menos tolerantes e mais desconfiados em relação aos muçulmanos do que o público em geral.
Por Jim Lobe [08.09.2011 10h53]
Dez anos depois dos atentados terroristas em Nova York e
Washington, a maioria dos norte-americanos diz respeitar a diversidade e
a liberdade de religião, embora nem sempre apliquem esses princípios
ao Islã e aos imigrantes. Os meios de comunicação desempenham um papel
fundamental em sua opinião. Uma pesquisa intitulada “O que significa
ser norte-americano: atitudes e um cada vez mais diverso Estados Unidos
dez anos depois do 11 de Setembro” concluiu que os telespectadores da
rede de TV conservadora Fox News são muito menos tolerantes e mais
desconfiados dos muçulmanos do que o público em geral.
O estudo também afirma que os autodeclarados simpatizantes do
movimento ultradireitista Tea Party, em sua maioria do opositor Partido
Republicano, são significativamente mais hostis com os imigrantes e
seus filhos, bem como contrários a legalizar seu status. Os dois grupos
tendem a crer que a discriminação contra os brancos na sociedade
consiste em um grande problema, tanto quanto a discriminação contra
negros e outras minorias, segundo o estudo, divulgado no dia 6 pela
Brookings Institution e o Instituto Público de Pesquisa sobre Religião
(PRRI).
A pesquisa – realizada por meio de entrevistas telefônicas, em
inglês e espanhol, com 2.450 adultos durante a primeira metade de
agosto – também concluiu que os consultados mais jovens, entre 18 e 29
anos, geralmente tendem a ter opiniões mais favoráveis sobre as
minorias (inclusive os muçulmanos) do que os mais velhos, em parte
devido a uma significativa maior interação em sua vida diária com
pessoas de outras culturas. A maioria dos mais velhos (52%), por
exemplo, responderam que o Islã estava “nas antípodas dos valores
norte-americanos”, enquanto a maioria dos jovens (54%) discordou. Dos
jovens, 64% disseram acreditar que os imigrantes fortalecem a sociedade
norte-americana, e 51% dos adultos afirmaram que eles ameaçam os
valores e costumes nacionais.
“A pesquisa revela que o país está em meio a uma discussão que já
ocorreu uma ou outra vez sobre a diversidade e a imigração, e este
debate tem hoje fortes dimensões partidárias e ideológicas, quando não
era assim”, disse E. J. Dionne, pesquisador do Brookings e coautor doe
estudo. “Os padrões por geração – os jovens em geral são mais
favoráveis à imigração e à diversidade do que os mais velhos – sugerem
que, no longo prazo, resolveremos esta discussão, como fizemos no
passado, a favor da inclusão. Mas, no curto prazo, será um debate
difícil e às vezes divisionário”, afirmou Dionne.
De fato, a pesquisa sugere que os Estados Unidos estão mais
polarizados, especialmente entre partidos e gerações, do que estavam às
vésperas dos atentados de 11 de setembro de 2001, que teriam
incrementado a islamofobia e a hostilidade contra os imigrantes,
especialmente entre os mais velhos e autodeclarados republicanos. Dez
anos depois, “parecemos menos unidos como nação”, segundo o informe.
A vasta maioria dos consultados, segundo o trabalho, defendeu os
princípios da tolerância religiosa do país. Quase nove em dez
entrevistados (88%) disseram que os Estados Unidos estão baseados na
ideia de liberdade de culto para todos, e 95% afirmaram aceitar que
“todos os textos religiosos devem ser tratados com respeito, ainda que
sem compartilhar as crenças que contêm”. No entanto, 47% concordam que
os valores do Islã estão “nas antípodas dos valores norte-americanos” e
48% discordam.
O estudo encontrou significativas diferenças neste tema entre grupos
políticos e demográficos. Embora uma maioria de autodeclarados
simpatizantes do governante Partido Democrata, independentes e
telespectadores da rede de TV CNN e da televisão pública discordem
dessa afirmação, cerca de dois terços dos republicanos, seguidores do
Tea Party e telespectadores da Fox News disseram concordar que os
valores islâmicos estão distantes dos princípios norte-americanos.
Da mesma forma, enquanto 30% de todos os consultados (contra 23% em
fevereiro) concordaram com a afirmação de que os “muçulmanos
norte-americanos querem estabelecer a lei islâmica” no país – tema
favorito dos islamofóbicos –, 45% de todos os entrevistados
republicanos concordaram, como fizeram 54% dos simpatizantes do Tea
Party e 52% dos telespectadores da Fox News. “Os canais de notícias têm
um papel poderoso em influenciar as opiniões” sobre a fé islâmica,
disse Daniel Cox, diretor do PRRI. “Os norte-americanos que dizem
confiar na Fox News são mais inclinados a ter opiniões negativas sobre o
Islã e os muçulmanos”.
A pesquisa também constatou um duplo discurso no público em geral na
hora de avaliar a violência cometida por pessoas autodefinidas como
cristãs ou muçulmanas. Mais de oito em cada dez (83%) disseram que os
que se definem com cristãos e cometem atos de violência em nome da
religião “não são realmente” representantes dessa fé. Entretanto,
quando a mesma pergunta foi feita sobre o Islã, menos da metade (48%)
disseram que os que cometiam violência não são realmente muçulmanos. O
duplo discurso, no entanto, foi mais pronunciado entre republicanos e
partidários do Tea Party (55%) do que entre democratas (40%) e
independentes (39%).
Publicado por Envolverde/IPS. O blog de Jim Lobe sobre política externa dos Estados Unidos está em www.lobelog.com.
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