“É uma guerra em torno do nada”. Foi o que me disse Ed Vulliamy, correspondente do semanário The Observer,
ao se referir à guerra entre os cartéis da droga e as autoridades
corruptas mexicanas. A guerra, retratada no livro de Vulliamy, Amexica,
se estende ao longo dos 2.100 milhas da fronteira entre os Estados
Unidos e o México. Entre 2006 e 2010, o presidente mexicano Felipe
Calderón lançou uma campanha anticartéis. Resultado: 24 mil pessoas
perderam a vida por conta dessa guerra. Não está claro quem mata os
civis. Seriam os sicários dos cartéis, ou os do governo a matá-los? Vai
saber.
Jornalistas, é óbvio, também constam da lista dos assassinados. Desde
2000, 83 repórteres foram eliminados. E na madrugada de sexta-feira 2,
os corpos de mais duas jornalistas foram encontrados em Iztapalapa,
bairro da Cidade do México.
Marcela Yarce e Rocio Gonzalez Trapaga tomavam um café quando foram
sequestradas. Os assassinos ataram seus pés e mãos, as desnudaram e as
estrangularam.
Fundadora e diretora do semanário Contralinea, Yarce era
conhecida pelas suas investigações sobre a violência e a corrupção.
Gonzales Trapaga, ex-repórter da rede Televisiva, cobria os mesmos temas
para diversos meios de comunicação. Semana passada, Humberto Salazar,
diretor de um diário online, também a cobrir a corrupção no México, foi
encontrado morto.
Vulliamy acredita que a violência provocada pelo tráfico de drogas “é
um resultado direto da privação e miséria causada pela globalização da
economia”. Ou seja, o controle dos cartéis da droga está entre os
pioneiros da globalização – e, claro, traz benefícios para os
traficantes. Tem mais: alguns desses cartéis de drogas têm receita
superior aos de várias corporações. Em suma, os cartéis mexicanos são
responsáveis por 90% de todas as drogas nos EUA. Segundo Vulliamy, o
mercado anual da droga nos EUA é de 323 bilhões de dólares.
Vulliamy, eu o conheço de outros carnavais. E o admiro. Em 1991,
Vulliamy descobriu os campos de concentração de muçulmanos em Omarksa,
na Bósnia. Em 2003, ele foi cobrir a guerra no Iraque, mas não
“embedded”, ou seja, a integrar o batalhão dos marines, como a vasta
maioria dos correspondentes. Ele quis cobrir o evento sozinho.
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