domingo, 4 de setembro de 2011

Guerra contra cartéis transforma jornalismo em profissão perigo



    “É uma guerra em torno do nada”. Foi o que me disse Ed Vulliamy, correspondente do semanário The Observer, ao se referir à guerra entre os cartéis da droga e as autoridades corruptas mexicanas. A guerra, retratada no livro de Vulliamy, Amexica, se estende ao longo dos 2.100 milhas da fronteira entre os Estados Unidos e o México. Entre 2006 e 2010, o presidente mexicano Felipe Calderón lançou uma campanha anticartéis. Resultado: 24 mil pessoas perderam a vida por conta dessa guerra. Não está claro quem mata os civis. Seriam os sicários dos cartéis, ou os do governo a matá-los? Vai saber.

   Jornalistas, é óbvio, também constam da lista dos assassinados. Desde 2000, 83 repórteres foram eliminados. E na madrugada de sexta-feira 2, os corpos de mais duas jornalistas foram encontrados em Iztapalapa, bairro da Cidade do México.

    Marcela Yarce e Rocio Gonzalez Trapaga tomavam um café quando foram sequestradas. Os assassinos ataram seus pés e mãos, as desnudaram e as estrangularam.

    Fundadora e diretora do semanário Contralinea, Yarce era conhecida pelas suas investigações sobre a violência e a corrupção. Gonzales Trapaga, ex-repórter da rede Televisiva, cobria os mesmos temas para diversos meios de comunicação. Semana passada, Humberto Salazar, diretor de um diário online, também a cobrir a corrupção no México, foi encontrado morto.

    Vulliamy acredita que a violência provocada pelo tráfico de drogas “é um resultado direto da privação e miséria causada pela globalização da economia”. Ou seja, o controle dos cartéis da droga está entre os pioneiros da globalização – e, claro, traz benefícios para os traficantes. Tem mais: alguns desses cartéis de drogas têm receita superior aos de várias corporações. Em suma, os cartéis mexicanos são responsáveis por 90% de todas as drogas nos EUA. Segundo Vulliamy, o mercado anual da droga nos EUA é de 323 bilhões de dólares.

    Vulliamy, eu o conheço de outros carnavais.  E o admiro. Em 1991, Vulliamy descobriu os campos de concentração de muçulmanos em Omarksa, na Bósnia. Em 2003, ele foi cobrir a guerra no Iraque, mas não “embedded”, ou seja, a integrar o batalhão dos marines, como a vasta maioria dos correspondentes. Ele quis cobrir o evento sozinho.

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